Barber

Sinfonia no. 1

por Adriano Brandão

Assim como o Brasil, os Estados Unidos têm a sua produção musical bastante concentrada no século 20. Bom, talvez mais concentrada ainda – afinal, antes disso nós tivemos José Maurício e Carlos Gomes; eles, que eu lembre, somente Edward MacDowell.

Dos autores americanos da primeira parte do século 20, certamente Copland é o principal e mais influente – bota influente nisso! Ives e Gershwin são casos muito à parte, por motivos diferentes. Do segundo time, há um monte de compositores, com destaque para Leonard Bernstein – muitíssimo mais famoso como regente – e para Samuel Barber, o assunto de hoje.

A música americana sempre foi razoavelmente conservadora (e é até os dias de hoje), principalmente se compararmos com o que se fazia na Europa continental. Barber é um exemplo desse conservadorismo. Sua produção foi francamente neorromântica, com poucas incursões numa linguagem mais moderna. Em seus melhores momentos, impressiona pela veia melódica exuberante e pelo senso formal muito acurado. Nos piores, é um limão sem sumo.

Mas vamos nos concentrar na parte boa :) Quando inspirado, gosto muito de Barber. É ótimo exemplo de música que é anacrônica, sim, mas muito bem escrita. Sua melhor obra é a Sinfonia no. 1, de 1936. Aliás, para mim, é mais que isso: é a maior sinfonia americana, apesar de Ives.

A Primeira de Barber é daquelas obras em que vários movimentos tocados sem interrupção se transformam em um movimento único graças à reciclagem do material temático. (Oi, Liszt!) Os três temas da primeira parte, no estilo declamatório característico, dão origem às três partes seguintes (um scherzo, um andante e uma passacaglia).

Creio mesmo que é a narrativa que emociona, com essa qualidade tão rara da concisão, mas os temas são lindos e a orquestração é suficientemente variada para carregá-los muito bem. Se a linguagem musical é conservadora? Sim, lembra um Sibelius ou um Nielsen de vinte anos antes. (Oi, Sétima! Oi, “Inextinguível“!) De qualquer maneira, convence. Não é exatamente pessoal, mas funciona!

Olhando em retrospectiva a produção sinfônica americana não-Ives: a Terceira de Copland tenta unir o estilo “apalachiano” ao maior fôlego do gênero sinfônico, mas o resultado é, IMHO, longo e chato; a Terceira de Harris tem uma linguagem mais pessoal e é muito boa, mas tenho certa implicância pela sua falta de contraste. So… I’ll stick with the Barber. Give it a try!

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 14/02/2014. Link permanente.