por Adriano Brandão
O aniversário de Leonard Bernstein sempre leva a uma dúvida: o que celebrar? O Bernstein compositor ou o Lenny regente/comunicador/superstar?
Optei hoje pelo seu lado autoral. Na minha opinião, ao contrário do Lenny intérprete, o Bernstein compositor falhou em deixar um legado mais consistente. Sua obra oscilou constantemente entre o teatro musical, o jazz, a música judaica e a grande sinfonia mahleriana sem criar uma identidade, uma voz própria realmente marcante.
Acho que a obra que representa melhor essa posição complicada do compositor – e que por isso mesmo é fascinante – é sua “Missa”, composta para os Kennedy em 1971. Muito mais que a missa católica tradicional, a “Missa” de Bernstein é uma espécie de super-mega-hiper-cantata com encenação, bailarinos, bandas, solistas, atores, vários coros e uma orquestra realmente grande.
O texto permite um monte de interpretações: seria uma reflexão sobre a situação dos EUA dos anos Nixon? Uma mensagem pacifista em plena Guerra do Vietnã? Um libelo humanista, ateísta? Pick one.
A obra é enorme – cerca de hora e meia de duração – e não encontrei ela inteira na internet para mostrar para vocês. Optei por um trecho crucial, justamente o final da missa, que em cerca de meia hora resume bem o caos musical/religioso/poético/filosófico da peça. No meio do trecho, o “celebrante” da missa joga o cálice de vinho no chão e começa a viajar na maionese, questionando o sentido de absolutamente tudo, da bunda à bomba atômica. Mas no final uma “canção secreta” ao tão questionado deus recupera certa paz de espírito.
Se tem uma obra de concerto que pode simbolizar a angústia da contracultura, certamente é essa “Missa” de Bernstein. Boa viagem :)
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Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 25/08/2012. Link permanente.