Britten

“O guia da orquestra para o jovem”

por Adriano Brandão

E terminamos a nossa série “Vareia!” com uma obra… didática!

Não, não é algo como “Variações e fuga sobre um tema de Mário Mascarenhas, para três dedos”! O didatismo a que me refiro é para a plateia, não para o músico. Trata-se do extremamente célebre “O guia da orquestra para o jovem” do compositor inglês Benjamin Britten, um conjunto de variações criado especificamente para demonstrar os instrumentos da orquestra para as crianças.

A obra, de 1946, surgiu da encomenda de um documentário chamado “Os instrumentos da orquestra”. Acabou se tornando uma das obras mais conhecidas do autor. A qualidade musical é tão alta que a peça mantém seu interesse enquanto conjunto de variações em si, à parte seu lado pedagógico. Prova disso é que enquanto no filme a obra tem um narrador que anuncia ao público cada uma de suas sessões (nomeando naipes, instrumentos etc), na sala de concerto a parte falada é costumeiramente excluída.

O “Guia” usa como base um tema do compositor barroco inglês Henry Purcell, tirado da música incidental que compôs para a peça “Abdelazar”. Engenhosamente, Britten distribui as variações entre os diversos instrumentos, seguindo a lógica dos naipes. O tema original é tocado inicialmente por toda a orquestra. Depois ele é repetido conjunto por conjunto: madeiras, metais, cordas e percussão.

Uma pontezinha, feita para o narrador poder falar um pouco, liga essa introdução às treze variações. A primeira é para as flautas e flautins, depois seguem variações específicas para os oboés, para os clarinetes e para os fagotes. Outra rápida ponte leva às cordas: violinos, primeiro, depois trechos para as violas, os violoncelos e os contrabaixos (sim! é hilário!).

A harpa fecha a seção das cordas, seguida imediatamente pelos metais: trompas, trompetes, trombones e tuba. Para fechar, a percussão (uma barulheira sensacional!).

Ei, ei, não terminou ainda! A cereja do bolo ainda está por vir: uma incrível fuga em que todas as seções da orquestra participam, exatamente na ordem acima. Depois da percussão, o tema de Purcell é recapitulado por toda a orquestra, majestosamente.

Com narração é legal? Até é, mas a música prescinde: ela já é tão explícita por si, tão incrivelmente divertida, que é bem fácil acompanhar as seções da orquestra em seu desfile, sem nenhum outro apoio. E digo mais – mesmo se você não for criança, ou mesmo se já conhecer muitíssimo bem todos os naipes da orquestra, vai curtir imensamente o “Guia”. Didático, sim, mas da melhor qualidade!

Dito isso, vale outro recado: você tem filhos? Sobrinhos? Afilhados? Vizinhos? Então você tem a OBRIGAÇÃO MORAL de mostrar o “Guia” para ele. Ele vai se divertir à beça – e ainda aprender uma coisa ou duas. ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 07/01/2013. Link permanente.