Handel

Concerto grosso op. 6, no. 11

por Adriano Brandão

Handel é um dos meus compositores prediletos, mas curiosamente falei muito pouco dele nesta Ilha. Sei lá, acho que ele é bem melhor de ouvir do que de comentar :)

Um aspecto muito curioso da personalidade handeliana era a mistura de faro apurado para o negócio, para o show biz, com musicalidade muito acima do normal. Quando se estabeleceu na Inglaterra, seu foco principal era o teatro de ópera. O modelo operístico italiano estava na moda e Handel conseguiu fazer fama e fortuna compondo e montando grandes óperas históricas em Londres.

Mas um dia a moda passou e Handel viu seu negócio sofrer. A lenda diz que foi com uma inspiração repentina que projetou “O messias”, obra-prima que praticamente inventou um gênero na Inglaterra: o oratório bíblico. E o sucesso lhe sorriria novamente.

Como intervalo nos oratórios, Handel estabeleceu o hábito de apresentar concertos. Muitas vezes eram concertos para órgão, na qual ele mesmo era solista – dois conjuntos absolutamente maravilhosos chegaram a ser publicados -, em outras ocasiões eram concertos grossos para cordas e contínuo.

Desse hábito nasceu aquele que é provavelmente o maior conjunto de concertos grossos da história, “Brandenburgos” à parte: os doze Concertos grossos op. 6, publicados em 1739. Alguns eram obras completamente novas, outros eram reciclagens de peças anteriores (Handel sempre foi um exímio reciclador de sua própria música). Aliás, o meu Opus 6 favorito, aqui destacado, é ele mesmo reciclado de um concerto para órgão (o de número 14, que não foi publicado nas duas coletâneas dos op. 4 e 7).

Diferentemente dos concertos de Vivaldi e Bach, geralmente formatados no estilo italiano de três movimentos, os concertos handelianos são quase suítes no molde francês, com várias partes. Fácil de reparar isso neste Op. 6 no. 11, com seus dois primeiros movimentos que formam, em conjunto, uma perfeita abertura francesa (lento e solene, depois fugado).

Só que a esse início francesado segue um segundo díptico, agora totalmente à italiana – um movimento lento muito típico e um finale cantante em forma tripartida. Poderia ter saído da pena de um Vivaldi!

Saca só o mix: um concerto meio francês meio italiano, composto por um alemão para um oratório bíblico montado para ingleses… Totalmente típico de Handel, o mais cosmopolita e universal dos compositores barrocos – e uma delícia do começo ao fim!

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Post escrito por Adriano Brandão em 27/02/2014. Link permanente.