Lutoslawski

Sinfonia no. 3

por Adriano Brandão

Continuamos no nosso especial dedicado aos anos 1980. Vamos dar uma escapada do plástico e do neon que simbolizam o lado colorido da época, e rumar a algo mais sombrio: a Guerra Fria.

Na primeira metade dos anos 80, a Guerra Fria dominava as preocupações cotidianas. Seja nos países envolvidos nas “guerras por procuração” (Guerra do Líbano, invasão soviética no Afeganistão), nos países atrás da Cortina de Ferro (Alemanha Oriental e Leste Europeu em geral), nos países latino-americanos sob ditadura militar (Brasil entre eles!) e nos próprios países envolvidos, EUA e URSS, constantemente assombrados pela “destruição mútua assegurada” do cataclisma nuclear.

É, não eram tempos fáceis. Nunca houve tempos fáceis.

A Sinfonia no. 3 do compositor polonês Witold Lutoslawski, finalizada em 1983, pertence a esse mundo. Seu país era um dos satélites da União Soviética e o período pós-Primavera de Praga (1968) viu uma brutalização crescente do regime comunista polonês. Em 1980 foi criado o movimento sindical Solidariedade, de oposição, e o governo impôs Lei Marcial. Nesse contexto, Lutoslawski, francamente contra o regime, recusou-se a trabalhar na Polônia. A Sinfonia no. 3 foi estreada mesmo em Chicago, sob a regência de Georg Solti.

A sinfonia é filha da Guerra Fria mas Lutoslawski já era um compositor veterano à época. Seus anos de formação foram a Segunda Guerra, fortemente influenciados pelo nacionalismo de autores como Bartók e Szymanowski. Depois, Lutoslawski criou uma espécie de via alternativa à vanguarda serial alemã, criando um som único, moderno (aleatoriedade, por exemplo) mas, ao mesmo tempo, profundamente ligado à tradição.

Isso é fácil de perceber pelo “gesto” básico da sinfonia: um motivo de força, de luta, nada distante de um Beethoven, por exemplo. E também pelo final redentor. A Terceira de Lutoslawski não é somente a obra-prima do compositor mas também uma das peças mais importantes da segunda metade do século 20. Quem disse que os anos 80 foram a década perdida? ;-)

[Gravação abaixo regida pelo próprio compositor!]

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Post escrito por Adriano Brandão em 13/09/2012. Link permanente.