por Adriano Brandão
Quem segue o facebook da VivaMúsica! ou ouve o podcast da Revista Concerto já está por dentro: recentemente o compositor brasileiro Gilberto Mendes completou 90 anos.
Vou aproveitar a deixa :) É o primeiro autor brasileiro vivo que mostro nesta Ilha. Mais do que dar parabéns a ele, queria apresentar a VOCÊ, AMIGO INTERNAUTA, sua obra mais famosa e paradigmática: “Santos Football Music”, para orquestra, fita magnética e plateia.
Plateia? É :) A característica mais comentada desta obra, de 1973, é a interação com o público. Antes da execução em si, a audiência é devidamente ensaiada, aprendendo a responder adequadamente a placas que ordenam: “falem”, “cantem”, “vogais”, “gol” etc. Durante a peça essas placas são levantadas, transformando a plateia em parte integrante da obra musical.
“Santos Football Music” é um jogo de futebol – do Santos de Pelé, afinal Mendes é santista – e a plateia é a torcida. Acontece de tudo. Dois gols inclusive. SPOILER: mais para o final da peça, o regente, vestido de juiz, deve marcar um pênalti e expulsar um membro da orquestra. /o\
Claro, a mise-en-scène é muito divertida e tudo mais, mas o ponto que torna a obra fascinante, pelo menos para mim, é a utilização da fita magnética. Totalmente consoante com o que se fazia na época, Mendes incorpora sons de narração de rádio (ele escolheu Geraldo José de Almeida, locutor clássico) a uma linguagem que lembra Lutoslawski ou Penderecki. A fala rápida, de ritmo amorfo, de Almeida, casa-se perfeitamente com essa música que é praticamente só textura. Funciona maravilhosamente bem: é não somente evocativo, mas também poético.
(Claro, a utilização da plateia cria um elemento de aleatoridade também muito típico dos autores poloneses citados. Vale lembrar: a obra foi escrita e estreada em Varsóvia.)
O que acho mais legal em “Santos Football Music” é a junção da escola polonesa dos anos 60-70, geralmente séria, sombria, com uma manifestação tão popular e brasileira quanto o futebol. O público adora – taí o milagre realizado por Mendes, o de tornar a linguagem musical contemporânea em algo acessível e divertido.
Lamentamos somente a escolha clubística. Santos? Pff. :-P
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 14/10/2012. Link permanente.