Mozart

Sinfonia no. 40

por Adriano Brandão

Existe uma série oculta cá na Ilha Quadrada, e nem eu havia percebido! É a série das obras de Mozart em sol menor. Ela está caminhando bem :) Começamos pelo Quarteto para piano no. 1. Depois chegamos ao Quinteto de cordas no. 4. Hoje é dia da maravilhosa Sinfonia no. 40. Um dia falaremos da Sinfonia no. 25, para fechar a série ;-)

Mozart compôs quarenta e uma sinfonias. Delas, somente as duas citadas são em tonalidade menor, e sempre sol. Acho o sol menor mozartiano muito intrigante. Aliás, reescrevo: acho o Mozart em tom menor extremante fascinante. Mozart nunca é melancólico ao modo de um Schubert, por exemplo; seu lado escuro é agitado, angustiado, ansioso.

Esta famosíssima Sinfonia no. 40, de 1788, representa bem esse estado de espírito. Ela começa só com o acompanhamento, uma figura constantemente repetida que transmite a comichão que Mozart estava querendo expressar. O tema principal, que todo mundo conhece, vem em seguida, e leva a um desenvolvimento realmente notável, de intensidade quase trágica.

O segundo movimento, profundamente belo e emocionante, é de um drama muito mais interiorizado. O minueto que se segue não é um minueto! Quer dizer, é um minueto, mas seu caráter é tão violento que mais parece um scherzo beethoveniano. (Contrastando com o trio bem mais delicado, de humor quase haydniano.) O finale retoma a agitação do início da sinfonia, com diversas passagens contrapontísticas muito brilhantes (em particular, dois trechos em estilo fugato que já antecipam a monumental fuga da Sinfonia no. 41).

Esta 40 é uma das obras de Mozart de que os românticos mais irão gostar, juntamente com o Concerto no. 20. Beethoven a tinha em mais alta conta. A sinfonia antecipa tanta coisa, desde a expressão dramática, passando pelo minueto menos dançante até o finale contrapontístico, que tal predileção fica plenamente explicada. Mozart estava colocando um pezinho no romantismo…

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Post escrito por Adriano Brandão em 21/02/2013. Link permanente.