por Adriano Brandão
Ah, sinfonias e seus apelidos! Desde Haydn e os pioneiros de Mannheim, percebeu-se que nomes como “Sinfonia em dó maior” eram confusos (afinal, só temos vinte e quatro tons) e títulos como “Sinfonia no. 2” eram meio secos e aborrecidos. Questão de marketing, sabe? ;-)
Rapidamente obras abstratas começaram a receber nomes curiosos, às vezes não planejados por seus autores. De Haydn me vêm à mente apelidos como “O filósofo”, “O distraído”, “O urso”, “A galinha” (!), “O relógio”… Mozart tem a sua “Júpiter” (aposto que ele preferiria que a obra fosse conhecida como Sinfonia no. 41, “FODONA”). Beethoven imortalizou o termo “Eroica” usado para nomear sua terceira sinfonia. Mendelssohn inventou o gênero da sinfonia turística, com a “Escocesa” e a “Italiana” (Schumann e Tchaikovsky pelo jeito eram mais adeptos do turismo regional, com suas “Renana” e “Pequena Rússia”).
Alguns começaram a seguir o exemplo de Beethoven e dar nomes em língua estrangeira. Italiano era a escolha óbvia, mas francês e latim também tinham seu charme. Gosto especialmente dos apelidos das sinfonias do sueco Franz Berwald, todos em francês: “Sinfonie sérieuse”, “Sinfonie capricieuse”, “Sinfonie singulière” e “Sinfonie naïve”. Très chic!
Mas sabe quem era o mestre dos apelidos? Nosso amigo careteiro, Carl Nielsen. De suas seis espetaculares sinfonias, quatro têm títulos. Um é curioso mas reflete exatamente o “programa” da obra: “Os quatro temperamentos”. Os outros três são total mistério! Saca só a chinfra: Sinfonia no. 4, “A inextinguível”. Sinfonia no. 6, “Sinfonia semplice”. Bom, perto da inextinguibilidade, simplicidade parece um conceito de maior compreensibilidade. Nielsen seria uma inflência para Tite?
Toda essa ENROLAÇÃO só para chegarmos à obra de hoje, uma das minhas favoritas do compositor dinamarquês: a sua Terceira Sinfonia, dita “Sinfonia espansiva” (com “s” porque é em italiano). O que esse nome significa ninguém sabe. O que ela expande? A percepção? A consciência? Nielsen usava psicotrópicos? Mistério!
O fato é que a música é maravilhosa do início ao fim. O primeiro movimento começa com um ataque de metralhadora (não bem isso, mas tipo isso) e continua com uma espécie de valsa mega gigante que termina em suspenso – uma cadência mamute que passa a sensação clara de que falta a última nota! Ufa ufa ufa!
O coração do ouvinte está acelerado quando começa o segundo movimento, uma paisagem pastoral com dois convidados especiais: soprano e baixo, que cantam somente melismas. (Eles só participam nesses minutos, depois vão embora.) O efeito é incrível. A música parece realmente um retorno no tempo, uma viagem nostálgica à infância.
Depois de um scherzo moderado, muito original, o finale surge, quase sem pausa, com uma melodia em estilo de hino, tocada a plenos pulmões, com toda a simplicidade do mundo. E o movimento se encaminha grandiosamente para um final emocionante.
Essa é a “Sinfonia espansiva” – um apelido bizarro para uma obra otimista e cativante, cheia de surpresas e detalhes preciosos. Não conhece? Taí a oportunidade de mudar a sua vida: clica aí embaixo ;-)
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 15/01/2013. Link permanente.