por Adriano Brandão
Bom domingo a todos!
Deixo vocês com o balé “Pulcinella”, de Stravinsky. A primeira coisa que todos dizem quando ouvem pela primeira vez essa obra é: “ué, isso é Stravinsky?”
Bom, é e não é. O balé, composto para Sergei Diaghilev em 1920, é totalmente baseado em peças do barroco italiano, principalmente de Pergolesi (e de outros autores como Gallo e Monza). O que Stravinsky fez, além de escolher e combinar as obras originais: jogar uma BAITA PIMENTA, principalmente harmônica e rítmica, nessa música.
O balé é para orquestra de câmara e solistas vocais. Stravinsky consistentemente escolhe peças instrumentais para serem base das partes vocais, e opta muitas vezes por originais vocais para as partes orquestrais. Assim ele dá mais uma passo na criação de uma obra que, sem dúvida nenhuma, é inteiramente sua. Analisando as peças originais que Stravinsky escolheu, é possível notar o incrível respeito pelas criações barrocas. Apenas um trecho vocal, extraído de uma ópera de Pergolesi, transformou-se em parte puramente instrumental – em todas as outras ocasiões, Stravinsky preserva até mesmo a letra original. (Em vários dos casos, escritas não em italiano, mas no curioso dialeto napolitano.)
Muito do crédito da obra se deve ao esforço de Diaghilev. Stravinsky reagiu mal à ideia de um balé baseado em Pergolesi. Diaghilev, então, conseguiu um monte de partituras do compositor italiano e deixou com Stravinsky, que, aos poucos, começou a considerar o projeto. O engraçado é que boa parte das partituras recolhidas por Diaghilev, na verdade, não eram de Pergolesi, como se imaginava à época, mas de contemporâneos mais obscuros. Mais engraçado ainda: uma das peças não é de um compositor italiano (um concerto composto por um holandês chamado Unico van Wassenaer); e outra das peças nem barroca é (uma canção do fim do século 19, composta por Alessandro Parisotti em estilo antigo). Stravinsky achou que tudo era de Pergolesi e mandou ver.
O vídeo russo abaixo (que tem lá seus problemas de colocação de microfones) é uma execução de concerto de “Pulcinella”, sem a dança. Ah, vale dizer: “Pulcinella” é o nome italiano para “Polichinelo”. Todos os personagens são baseados nos estereótipos da commedia dell’arte italiana. É divertido demais!
Abaixo, uma compilação INÉDITA, feita especialmente pelo blog, com todas as peças originais, agrupadas na ordem do balé de Stravinsky. Escutá-la revela todo o incrível trabalho de Stravinsky – todas as invenções harmônicas e rítmicas do compositor russo ficam evidentes ao conhecermos as peças barrocas que lhe serviram de base.
Outra constatação: por mais interessantes que sejam as criações originais, a audição do conjunto compilado fica um pouquinho monótona. A música (re)criada por Stravinsky é infinitamente mais interessante. Não? O que vocês acham? Divirtam-se… e comentem!
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 26/08/2012. Link permanente.