Adams

“Harmonielehre”

por Adriano Brandão

Segundo e último dia do especial Nostalgia dos Anos 80 aqui na Ilha :)

Hoje começaremos a programação com uma das mais importantes obras do chamado pós-minimalismo: “Harmonielehre”, do compositor americano John Adams, de 1985. Inicialmente ligado ao minimalismo de Riley, Reich e Glass, Adams foi aos poucos descolando sua obra do estilo repetitivo. “Harmonielehre” tem importante papel nessa transição.

A gênese dessa peça é curiosa. Adams já era conhecido por obras como “Shaker Loops” e “Grand Pianola Music”, quando, entre 1984 e 1985, sofreu uma crise criativa. Não conseguia compor nada. Certo dia, teve um sonho esquisito: nele, assistia a um navio petroleiro emergir da Baía de São Francisco e disparar como um foguete. O sonho o estimulou a escrever o primeiro movimento dessa obra, que se inicia com grandes acordes martelados que misturam o estilo minimalista com um “gesto” bem romântico.

E, de fato, durante a peça, a repetição típica vai se diluindo em texturas que lembram a música não-serial pós-Darmstadt (Lutoslawski ou Rautavaara, por exemplo) e finalmente em uma expressividade pós-romântica (Mahler, Sibelius). Adams, aí, se liberta de sua crise pessoal e criativa. O terceiro e último movimento, também ligado a um sonho, termina esse processo de “cura” artística, com o retorno do padrão repetitivo do início.

E o nome? “Harmonielehre” em alemão significa “Estudo de harmonia” e é o nome de vários livros – notadamente o tratado de Arnold Schoenberg ;-)

A obra, para grande orquestra sinfônica, é possivelmente a mais famosa peça de concerto de Adams (que se celebrizou ainda mais com sua ópera “Nixon na China”) e uma das mais relevantes das últimas décadas. O jeito livre da música contemporânea – sem escolas, sem partidos estilísticos -, que o próprio Adams chama de “pós-estilo”, tem muito a ver com esse movimento de libertação de “Harmonielehre”.

Aperte os cintos! (Vídeo em três partes, atenção. A gravação é clássica: Edo de Waart em São Francisco. Adams é o “compositor residente” da Sinfônica de São Francisco. O vídeo ilustra a música com quadros de pintores abstratos como Newman e Rothko.)

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Post escrito por Adriano Brandão em 14/09/2012. Link permanente.