Bach

Suíte para violoncelo no. 6

por Adriano Brandão

Algumas obras musicais têm o poder especial de parecerem existir desde sempre, como se fossem partes inevitáveis da história humana. Já comentei aqui sobre o “Anel” de Wagner. Hoje vou falar de uma peça tão ou mais universal: a Suíte para violoncelo no. 6 de Bach.

Bom, parece que TODA a produção de Bach emana essa sensação de inevitabilidade! Acho que foi isso que Villa-Lobos quis dizer quando aproximou Bach ao folclore brasileiro, insinuando que havia ali uma relação. Na verdade, Bach tem cheiro de “folclore do mundo”, se me permitirem dar uma de Nestrovski ou de Gianetti da Fonseca. (Bleargh.)

Bullshitagem de lado, o fato é que é impossível não se sentir emocionado e assombrado por obras como as suítes para violoncelo de Bach. O interessante é que essas peças tão sensacionais, compostas no período em que Bach trabalhava para o príncipe de Köthen (década de 1720), foram esquecidas logo após a morte do autor. Alguns músicos as conheciam, como Schumann, que compôs acompanhamentos pianísticos para as suítes. Mas elas só entraram no repertório graças ao esforço do violoncelista espanhol Pablo Casals, nos anos 1920. Tipo… duzentos anos depois!

Hoje elas se tornaram quase “pop” – como as “Variações Goldberg”, as suítes ganham a admiração de gente bastante afastada da música clássica em geral. Já encontrei CDs das suítes e das “Goldberg” em casas de amantes de jazz e pop. Meu lado Nestrovski diria que é o “folclore universal”, yadda yadda, mas na verdade acho que o Bach de câmara, para essas pessoas, soa como música abstrata, tipo um Kandinsky do século 18. O lado dramático, épico, beethoveniano da música clássica é mais alienígena para esse público.

[AMIGO INTERNAUTA: o que você acha? Cartas para a redação!]

Das seis suítes que Bach criou, a minha predileta é mesmo a sexta. Como as demais, ela tem seis movimentos – cinco danças e um prelúdio. O que ela tem de diferente é sua expressão mais grandiosa (talvez fruto da tonalidade escolhida, ré maior), com o prelúdio menos sonhador e mais incisivo da série, repleto de sonoridades “sinfônicas”, por assim dizer.

A gravação que vou mostrar a vocês é de uma instrumentista francesa especializada em execução “historicamente informada”, Ophélie Gaillard. Os ouvintes mais acostumados às interpretações tradicionais de violoncelistas como Rostropovich e Fournier, ou de românticos como Ma e Maisky, vão estranhar. Eu adoro :)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 30/10/2012. Link permanente.