Debussy

Quarteto de cordas

por Adriano Brandão

Debussy franckista? Escrevendo forma-sonata? Empregando temas recorrentes? O GERENTE FICOU LOUCO? Pois não é loucura minha, não – aconteceu mesmo, e numa das obras de câmaras mais interessantes do dito “impressionismo” musical: o seu único Quarteto de cordas, composto quando tinha 30 anos.

Engraçado como a música instrumental francesa evoluiu de modismo em modismo. Já comentamos aqui a questão da sinfonia romântica na França, que explode com a Terceira de Saint-Saëns, cujo sucesso gerou uma nova obra por ano: d’Indy, Franck, Chausson, Dukas. O mesmo aconteceu com o quarteto de cordas. Em 1890 estreou o Quarteto de cordas de Franck, e o exemplo foi imitado prontamente por d’Indy em 1891… e por Debussy, em 1892! O jovem Debussy ainda não era tão rebelde assim…

A influência dos colegas mais velhos faz-se notar principalmente no uso da forma cíclica, que ambos tanto gostavam. O tema principal do primeiro movimento reaparece no scherzo, no movimento lento, e um milhão de vezes no finale, dando imensa unidade à obra. Legal. Mas o tema é modal, em modo frígio! Além desse motivo principal modal, há outros temas pentatônicos e em escalas não usuais. Franckista até a página dois, esse Debussy!

O tema modal que amarra o quarteto também lhe dá seu som tão característico – a música anterior está presente, mas aqui em Debussy a sonoridade é tão mais crua, mais visceral, mais… moderna! O scherzo, repleto de pizzicatos e de acentos ciganos/espanhóis, reforça o quanto Debussy consegue ser mais natural e original que seus quadrados antecessores.

Intrigantemente, meu movimento predileto é o lento, o mais próximo talvez de Franck. Quando o tema cíclico retorna, bem disfarçado, lá pelo clímax do andamento… PUTZ, é de suspender a respiração! O finale tem uma introdução lenta e é todo desenvolvido sobre o motivo cíclico. Não é contrapontístico como se espera de um final de quarteto de cordas – mas encerra de maneira memorável essa obra tão marcante.

No final das contas, mesmo sem descolar tanto do convencional, Debussy dá aqui as coordenadas para seus sucessores. Seu Quarteto teve um descendente famoso – o de Ravel, composto dez anos depois. Mas esse é assunto para outro dia ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 08/04/2014. Link permanente.