Martinu

Noneto

por Adriano Brandão

“Outonal”.

Em arte, geralmente essa palavra indica criações que têm certo clima melancólico, mas não depressivo. Há algo de esperança e sutileza nesse tipo de expressão, sempre realizada em meios-tons.

Na vida, geralmente associamos esse termo à velhice. A pessoa em seu outono: uma fase em que a nostalgia de uma juventude perdida e a consciência de fim de jornada se unem à sabedoria própria da experiência.

Na história da música esses dois outonos se fundiram com alguma frequência. O caso clássico é o de Brahms, mas gosto muito de lembrar do tcheco Bohuslav Martinu, que compôs um par de obras realmente encantadoras em seus últimos anos de existência.

Martinu é uma das personalidades musicais mais marcantes do século 20. Seu estilo, tal qual o de Richard Strauss, é único e imediatamente reconhecível. E olha que sua trajetória, tal qual a de Stravinsky (ou a de Picasso, nas artes plásticas), teve inúmeras fases: o estilo parisiense, próximo dos “Six”; o estilo neoclássico, aparentado ao de Bartók; o estilo “americano”, grandioso e romântico; e o estilo “impressionista”, livre e colorido.

A todas essas etapas soma-se um epílogo: justamente a fase outonal, de obras como a Rapsódia para viola e orquestra e este Noneto que apresento hoje.

O Noneto, para flauta, oboé, clarinete, trompa, fagote, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, foi composto em 1959 – último ano de vida de Martinu. É dividido, como usual para o compositor, nos três movimentos clássicos.

Martinu morreu no exílio, na Suíça. Ele saiu de sua Boêmia natal em 1923 e, com guerras e revoluções no meio do caminho, acabou nunca voltando. O Noneto parece expressar bem a saudades da música de sua terra, vista sob o olhar cansado mas afetuoso de um artista septuagenário. É lindo até não poder mais, de uma ternura realmente infinita. Como que uma obra tão maravilhosa assim não é mais conhecida, mais ouvida, mais tocada?

Martinu é dos grandes. Vou encher vocês de tanto Martinu cá nesta Ilha ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 24/10/2012. Link permanente.