Messiaen

Sinfonia “Turangalîla”

por Adriano Brandão

Turangalîla.

Essa expressão em sânscrito parece que tem um significado mais ou menos assim: “canção de amor e hino de alegria, do tempo, do movimento, da vida e da morte”. Em resumo, paz e amor, bicho.

É o que quis expressar o compositor Olivier Messiaen quando compôs uma das maiores obras do século 20, a Sinfonia “Turangalîla”, de 1948. Para grande orquestra, com imenso arsenal de percussão, a “Turangalîla”, além da mensagem hippie avant la lettre, chama atenção por ser uma sinfonia de DEZ movimentos com dois instrumentos solistas: piano e ONDAS MARTENOT.

— PAUSA —

Sabe o que é ondas Martenot? É um instrumento eletroacústico, que se toca puxando um anel por uma espécie de cordão de aço, criando glissandos realmente fantasmagóricos. Alternativamente toca-se dedilhando um teclado igual ao de um piano, para gerar sons parecidos com o de um sintetizador antigo.

— FIM DA PAUSA —

Os nomes dos dez movimentos da sinfonia são tão interessantes quanto o da obra: entre eles, “Jardim do sono do amor”, “Desenvolvimento do amor” e o meu predileto, “Alegria do sangue das estrelas”. Repeat after me: “alegria do sangue das estrelas”. DOIDÃO.

Messiaen era uma criatura muito sui-generis. Católico devoto, mas de preocupações esotéricas, tinha a chamada “sinestesia”. Ele conseguia avaliar sons em termos de cores. Uma vez, em um ensaio da “Turangalîla”, chegou a pedir ao regente que fizesse tal trecho “um pouco mais marrom”, pois estava saindo “muito amarelado”.

Messiaen também era maluco por pássaros. Ele colecionava seus cantos, chegando a viajar só para fazer isso. Anotou melodias de centenas de espécies diferentes e usou diversas em suas próprias obras. É fácil de perceber isso na “Turangalîla”. Ouça o quinto movimento – “Alegria do sangue das estrelas”, adoro escrever isso! – e saque os cantos dos pássaros gritados e respondidos, várias vezes.

(Na verdade, acho mesmo que os ritmos inusitados dos cantos dos pássaros influenciaram o jeitão particular da melodia de Messiaen, e fica difícil distinguir o canto natural de um pássaro de um “canto artificial” inventado pelo compositor.)

Adoro Messiaen! Ele criou música tão inventiva, tão original, tão cheia de personalidade. E incrivelmente excitante também. A “Turangalîla” é minha obra de Messiaen predileta. Impossível ficar indiferente a ela. EXPERIMENTE!

[Ver a “Turangalîla” é uma experiência especial. As diferentes percussões e os solos de piano e ondas Martenot tornam o espetáculo visualmente intrigante. Além disso, o vídeo abaixo tem direção de câmara espetacular, realmente notável. Imperdível!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 26/09/2012. Link permanente.