Mignone

“Maracatu de Chico Rei”

por Adriano Brandão

Domingo de eleição, domingo de música brasileira cá na Ilha!

Já comentei aqui sobre Francisco Mignone, compositor brasileiro de primeira linha que infelizmente ainda é pouco reconhecido.

A obra mais célebre de Mignone é um balé com coro, “Maracatu de Chico Rei”, de 1933. De linguagem razoavelmente próxima a Falla e Respighi, com um bom tempero stravinskiano (“Petrushka” nunca está muito distante), o balé conta a história de um rei africano que, escravizado no Brasil, consegue alforriar sua tribo, integrante por integrante. A conquista é celebrada numa festa – o “Maracatu” – no qual há boa misturança de ritmos/ritos negros e brancos (até dançam o minueto!).

A parte mais famosa da obra é a “Dança de Chico Rei e da Rainha N’Ginga”, centroavante do trio de ataque do time dos cavalos-de-batalha orquestrais brasileiros. Atente à formação: esta “Dança” de Mignone, o “Mourão” de Guerra-Peixe e o “Batuque” de Lorenzo Fernandez. São obras sempre prontas para qualquer eventualidade – sei lá, vai que alguém precisa de um bis urgente? ;-)

Showcase à parte, o “Maracatu de Chico Rei” é obra muito bonita e importante, que TODOS OS BRASILEIROS DO MEU BRASIL-SIL-SIL deveriam conhecer de cor e salteado, de frente pra trás e de trás pra frente. É assim boa!

E daí vem aquela velha indignação com relação ao tratamento que a música brasileira recebe. Obra tão relevante, o “Maracatu” só tem duas gravações disponíveis. Resta ao ouvinte uma cruel escolha de Sofia: ou a excelência técnica com insensibilidade artística da gravação da OSESP ou a regência sensível com forças orquestrais e corais muito deficientes da versão mineira.

Para hoje, escolhi a versão da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Além da regência de David Machado ser muito mais simpática ao estilo meio moderno meio romântico de Mignone – ela utiliza o texto integral da obra. Por algum motivo desconhecido, Neschling em sua gravação com a OSESP optou por retirar várias partes (principalmente as “europeias” mais ao final). Pena, pois a OSESP soa magnificamente, muito melhor que a contraparte mineira. :-/

Não dá pra ser feliz no Brasil mesmo.

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 28/10/2012. Link permanente.