por Adriano Brandão
Eu iria começar o texto com um “às vezes injustiças são cometidas e reparadas só postumamente”, mas suspirei: “às vezes?”.
O objetivo era introduzir a lamentável historinha de uma das mais impressionantes obras de câmara de Wolfgang Amadeus Mozart, o seu Quarteto para piano e cordas no. 1, em sol menor.
Foi assim: em 1785 um editor chamado Hoffmeister chamou Mozart e pediu a ele três quartetos para piano. Quando recebeu o primeiro, ficou assustado. Obra de execução assim tão difícil não iria vender nada! Pagou o prometido (pelo menos) e dispensou a entrega das demais peças.
“Intãotá”, deve ter pensado Mozart. Xingaria muito no Twitter, se houvesse.
Ouvindo o quarteto hoje, só nos resta lamentar a parvoíce extrema de Hoffmeister. Que anta! Sorte nossa que Mozart deu de ombros e compôs outro quarteto mesmo assim, mais ou menos um ano depois.
Caraca! O Quarteto no. 1 é das obras-primas supremas do compositor. Vejam lá a tonalidade, que não deixa enganar: sol menor. Se Mozart queria expressar a sua famosa angústia/agitação/ansiedade, era em sol menor que o faria, sempre com resultados espetaculares. Ouça o primeiro movimento e saque a seriedade e dramaticidade da expressão. O que é esse desenvolvimento? E a reexposição? PUTZ! Dá licença que vou lá no canto me matar só um pouquinho…!
A obra se encaminha para um andante cuja maravilha só poderia sair mesmo da pena de Mozart. O quarteto, tipicamente para Mozart, é apenas em três movimentos. Termina com um rondó que só – só? – atinge um objetivo: nos lavar a alma de todas as injustiças do universo.
Poucos Mozarts e muitos Hoffmeisters, os males do mundo são.
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Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 01/11/2012. Link permanente.