Mozart

Requiem

por Adriano Brandão

[Post trazido pelo AMIGO INTERNAUTA. E não é Beethoven! Uia!]

Não sou um cara religioso, muito pelo contrário. Mas gosto muito de música sacra. Acho que isso tem um motivo. Peguem travesseiros, mantas, fiquem confortáveis, pois vou começar a viajar na maionese. :-P

Por temperamento, sou formalista. Não, não sou um sujeito formal – prezados leitores, por obséquio, por meio desta, atenciosamente. Vocês sabem que não :) Sou formalista – isto é, gosto de forma, de estrutura, de ver COMO as coisas são feitas e de bolar MANEIRAS de se atingir certos objetivos. Um cara que gosta mais do caminho do que do destino, digamos assim.

Daí vem minha adoração pelo gênero sinfônico, essencialmente formalista e abstrato. Cada obra nesse mundo de música absoluta é uma batalha entre a tradição estabelecida e a inovação. O fascinante é que as revoluções que alargam fronteiras também as reforçam. Tipo: toda vez que algum compositor transforma a sinfonia, por exemplo, ajuda a estabelecer ainda mais o formato básico, essencial, consolidado pelo pessoal de Mannheim.

Em música litúrgica é exatamente igual. Tentem me convencer do contrário, mas para mim qualquer rito é pura forma, válida em si mesma. Por exemplo: uma missa, antes de tudo, é um MODO de manifestar tais e tais conceitos. O mais belo é ver o que cada artista pôde fazer a partir desse molde comum, que nos permite direta comparação.

As obras mencionadas no nosso VOCÊ DECIDE formam uma espécie de panorama histórico da missa de requiem posta em música. Ouça todas e veja quão lindo é perceber a evolução!

A forma é basicamente a seguinte: das partes do “próprio” da missa (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei), permanecem o Kyrie, o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei. A elas são acrescentadas partes específicas do rito dos mortos: uma introdução que deseja paz aos mortos (Requiem), uma descrição do juízo final (Dies irae) e mais pedidos de repouso eterno (o Offertorium e o Communio). Há partes adicionais opcionais, mas o núcleo é esse.

O Requiem e o Kyrie normalmente são lentos, suplicantes. Em seguida, o Dies irae, agitado, turbulento. Depois, partes de adoração, com tom mais solene e grandioso (fugas!), como o Offertorium e o núcleo Sanctus+Benedictus. A missa costumeiramente termina em tom mais doce, de agradecimento, no Agnus dei e no Communio. Pense numa sinfonia de quatro movimentos, em arco: lento, muito rápido, rápido, moderado. É (bem) mais ou menos isso ;-)

Foi campeã da nossa enquete talvez a missa dos mortos mais famosa da história: o Requiem de Mozart. A história todo mundo conhece: encomendado em 1791 por um mecenas anônimo (depois descoberto), sua composição foi interrompida pela morte do próprio compositor. A obra foi completada principalmente por um aluno de Mozart, Franz Xaver Süssmayr, que orquestrou os esboços deixados pelo mestre e compôs inteiramente o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei.

Claro que uma missa dos mortos póstuma, inacabada, alimentou intensamente a imaginação da posteridade. O quanto restou de Mozart e o quanto temos de Süssmayr em cada uma das partes do Requiem é motivo de acalorados debates desde 1791. Além da compleição “oficial”, há dezenas de outras (inclusive uma criada no Brasil por Sigismund Neukomm). Alguns acham o trabalho de Süssmayr indigno de Mozart. Eu conheço alguns dos finais alternativos e, olha, nunca me acrescentaram grande coisa. Fico com a tradição.

Se a primeira metade do Requiem é mais interessante que a segunda? Claro que é! Não culpem Süssmayr: vejam só que baita música Mozart escreveu! O comecinho, o Kyrie, o Dies irae, o Tuba mirum, o Lacrimosa… partes MEGA FODAS, pra lá de emocionantes, difíceis de serem continuadas à altura por qualquer outro compositor que não o próprio Mozart.

Bom, julguem vocês mesmos :) E bom feriado a todos!

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Post escrito por Adriano Brandão em 02/11/2012. Link permanente.