Sibelius

Sinfonia no. 5

por Adriano Brandão

Todos morrendo de ansiedade! Quarta-feira, dia de homenagear com a comenda mais gloriosa da internet brasileira do meu Brasil-sil-sil: o SELO DO GRANDE CARVALHO. \o/

Aqui é satisfação garantida e recomendo tirar as crianças da sala, porque a obra de hoje é MUITO FODA: vamos ouvir a Sinfonia no. 5 do finlandês Jean Sibelius.

Putz, nem sei como começar. Conheci a música de Sibelius exatamente através dessa sinfonia, há uns 15 anos, e foi uma paixão arrebatadora. Por semanas, eu não conseguia ouvir outra coisa. O que eram esses sons? O que significa essa estrutura? Meu cérebro pegava fogo!

A Quinta de Sibelius é talvez sua obra mais famosa. Foi composta em 1919. Ela (e, mais radicalmente, a Quarta) se situa num momento de transição de sua obra – de um compositor nitidamente pós-romântico, de filiação tchaikovskiana evidente, para um autor mais moderno e individual. E a palavra que pode resumir bem o estilo maduro de Sibelius é: concentração.

Exemplifico. A sinfonia é dividida em três movimentos, mas essa divisão é ilusória. Olhando com lupa é relativamente simples enxergar nela movimentos ocultos, comprimidos lado-a-lado ou completamente misturados. O primeiro bloco sintetiza um primeiro movimento moderado com um scherzo mais agitado. O segundo bloco é o movimento lento, um tema com variações. E o terceiro bloco é um amálgama de finale agitado com finale majestoso (às vezes sobrepostos). Tudo concentrado, realmente apertadinho, com pouquíssimos temas que geram uns aos outros, em menos de 30 minutos de música. Tudo é concentração e economia de meios. (Sibelius iria além em suas obras posteriores!)

ARREPIO TOTAL: a sinfonia se inicia com as trompas, que clareiam o ambiente como se fosse o sol se esgueirando entre as nuvens. Em seguida, temas bem básicos começam a se espalhar, a se misturar, a crescer de maneira incrivelmente orgânica. É música com muitas vírgulas e pouquíssimos pontos finais. Somos levados por esse fluxo e nem percebemos que o clima não parou de mudar desde o início. Quando nos damos conta, já estamos na transição MAIS FODA DA HISTÓRIA, que nos leva do andamento moderado para o scherzo, mais rítmico, de contornos mais definidos. A gente não quer, mas o movimento termina. E que término, meus amigos. ARREPIO DUPLO!

O miolo da sinfonia é um conjunto de variações sobre um tema de encantadora simplicidade. É um show de invenção harmônica, mas principalmente uma manifestação puríssima de beleza. Putz. Em seguida, com pausa mínima, começa o finale, esse bloco extraordinário que consegue misturar música rápida e música lenta sem ser exatamente nenhuma das duas coisas. Não consigo explicar bem: ouça e descubra!

Ah. Cuidado com o finalzinho – nele tem pegadinha do Sibelius. RÁ!

Gente, é incrível demais. Nem ouse não clicar no play. A Quinta de Sibelius é demais DO GRANDE CARVALHO!

[O vídeo abaixo – extraordinário – traz um dos grandes especialistas em Sibelius, seu conterrâneo Jukka-Pekka Saraste, em concerto na Noruega.]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 14/11/2012. Link permanente.