Smetana

Quarteto de cordas no. 1, “Da minha vida”

por Adriano Brandão

[Este post foi trazido a você pelo AMIGO INTERNAUTA. Cheers!]

Conhecemos Bedrich Smetana principalmente pelo monumental ciclo de poemas sinfônicos “Minha pátria” e por sua ópera nacionalista “A noiva vendida”. Mas a produção de Smetana tem muitas riquezas a nos oferecer.

Uma das mais preciosas é o seu Quarteto de cordas no. 1, dito “Da minha vida”. Aliás, que vida a de Smetana! Nascido numa parte da Boêmia falante de alemão (época do Império Austro-Húngaro), engajou-se na “primavera dos povos” de 1848, como revolucionário. Casou-se, teve quatro filhos, três deles mortos na infância. Foi trabalhar na Suécia. Arranjou uma aluna-amante sueca. A esposa morreu em seguida. Voltou para a Boêmia, foi morar com o irmão e casou-se com a concunhada, dezesseis anos mais nova. Fundou o primeiro teatro de ópera em língua tcheca, que teve de aprender na marra, a duras penas. Tornou-se o grande líder musical nacionalista tcheco. Famoso e influente, ficou surdo. Compôs o ciclo “Minha pátria” praticamente todo sem ouvir-lhe um só som. Morreu meio louco, muito doente e aclamado como o pai da música tcheca.

Ufa, ufa. Agora tome fôlego :)

Este Quarteto no. 1 é de 1876. Smetana morreu em 1884. É, portanto, uma autobiografia parcial – ele ainda faria muita coisa importante. Mas este ano representa um ponto importante da vida do compositor: foi quando ficou claro que sua surdez era grave e definitiva. Daí a necessidade de um testamento – o Quarteto “Da minha vida” é uma espécie de “Heiligenstadt” posto em música.

A obra começa de maneira dramática – a exposição de seu ideais de vida e arte -, continua feliz e vigorosa – uma vida afetiva agitada – e atinge um ápice de doçura e profundidade – a paz da maturidade.

Mas o ponto culminante do quarteto todo está mesmo no final do último movimento. Até então uma dança vigorosa – o bem-sucedido esforço de Smetana em busca de uma arte nacional tcheca -, ele fica sombrio de repente. Uma nota estridente e sustentada passa a dominar a atmosfera – é o zumbido de seu ouvido doente. O tema do primeiro movimento retorna – a arte como salvação – e o quarteto termina resignado. É arrasador e emocionante, muito sincero e, acima de tudo, muito humano.

Fiquem com o testemunho extraordinário desse maravilhoso, e pouco reconhecido, compositor. E bom fim-de-semana! \o/

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Post escrito por Adriano Brandão em 09/11/2012. Link permanente.