Suk

Sinfonia “Asrael”

por Adriano Brandão

Tem vezes em que tudo parece dar tragicamente errado. Aconteceu isso com o pobre Josef Suk. Tcheco, aluno de Dvorák, casou-se com a filha do mestre. Tudo ia bem quando, de repente, o sogro, modelo e ídolo morreu. Muito chocado e comovido, Suk resolveu escrever uma grande sinfonia em homenagem ao mestre.

No meio da composição, a maior tragédia: sua mulher, Otilka, falece também. E Suk resolveu mudar sua criação. Ao invés de terminar a obra em um tom celebratório dedicado à memória de Dvorák, compôs dois movimentos elegíacos para chorar a perda de Otilka. A sinfonia ganhou o nome de “Asrael”, que é o anjo da morte na teologia islâmica.

A obra foi terminada em 1906 e é, sem sombra de dúvida, o ponto culminante da produção de Suk. Ela representa uma guinada radical do compositor – antes um romântico nacionalista no estilo de Dvorák, depois um pós-romântico mais sintonizado com o que faziam Strauss e Mahler na mesma época. Apesar da data tardia (em 1906 Mahler já tinha composto a sua Sétima Sinfonia), gosto de pensar em “Asrael” como uma espécie de Elo Perdido estilístico entre “O espírito das águas” e a Sinfonia “Ressurreição” – i.e., entre o Dvorák tardio e o primeiro Mahler.

A Sinfonia “Asrael” contém diversas passagens arrepiantes, como o clímax do primeiro movimento, o segundo movimento baseado em um motivo do “Requiem” de Dvorák, o tema de Otilka no quarto movimento ou o finalzinho redentor da obra. A sinfonia é uma verdadeira obra-prima esquecida pela posteridade. Hoje temos o dever de reparar esse engano. Afinal…

SUK RULEZ!

[Adoro o vídeo abaixo, registro de uma excecução belga. O regente, Walter Weller, tem um gestual meio inexpressivo, mas isso é enganador. Sua interpretação é quentíssima, uma das melhores da discografia.]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 30/08/2012. Link permanente.