por Adriano Brandão
Tem horas em que é simplesmente impossível seguir a nossa programação normal. Uma fixação por uma obra que insiste em não sair dos nossos ouvidos pode arruinar todo um planejamento. É o caso hoje. Eu não queria mostrar essa peça já, mas não resisto. Simplesmente porque não paro de ouvir essa música! Ela é tão sensacional, tão maravilhosa, que simplesmente me pegou de refém e me obrigou a mudar o que eu havia pensado antes.
Trata-se da Sexta Sinfonia de Bohuslav Martinu, dita “Fantasias sinfônicas”. AMO essa música há muitos anos, mas na noite desta quarta resolvi ouvi-la e – pronto! – ela grudou novamente na minha cabeça.
Já comentei aqui sobre Martinu e seu último período estilístico, criado na década de 1950. É um dos estilos mais encantadores e pessoais de toda a história da música. As relativamente poucas obras (para Martinu, um autor prolífico) compostas nessa linguagem são todas apaixonantes: os Concertos para piano nos. 4 (que já apareceu nesta Ilha) e 5, os “Afrescos de Piero della Francesca”, as “Estampas”, as “Parábolas” e esta Sinfonia no. 6, de 1953.
O nome escolhido por Martinu para a sinfonia entrega muito de como a obra é estruturada: “Fantasias sinfônicas”. De fato, de sinfonia a obra tem muito pouco. São três movimentos semi-independentes e de feição extremamente livre. Martinu mesmo disse que a obra não tinha forma e que não sabia bem o que a mantinha coesa. É um feito incrível, pois essa união de coerência total com liberdade total é transparente para o ouvinte.
O resultado é uma música que parece uma aventura. Esqueça a divisão allegro-movimento lento-scherzo-finale. O primeiro dos três movimentos começa com uma espécie de ruído, de estática, que aos poucos vai se solidificando em um discurso mais discernível. O segundo movimento também começa com texturas amorfas, mas evolui rapidamente para o ponto máximo de agitação da obra – uma espécie de caos que termina meio abruptamente. É o meu predileto.
O último andamento é o mais lento de todos. Ele começa não com um murmúrio, como os anteriores, mas com algo próximo a um hino. O clima reflexivo é o predominante, embora haja uma seção central bastante ansiosa. A obra termina suavemente, de maneira muito tocante. Há diversas passagens de arrancar lágrimas. HAJA CORAÇÃO, AMIGO!
Olha, a Sexta de Martinu é uma das glórias esquecidas da música do século 20. Faz o seguinte, irmão: ouça e MUDE SUA VIDA!
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 18/01/2013. Link permanente.