Chopin

Sonata para piano no. 2

por Adriano Brandão

Ontem morreu outro importante compositor contemporâneo, o americano Elliott Carter. Carter foi um prodígio de produtividade e longevidade: viveu 103 anos, compondo até seus últimos dias. Sua última obra é de agosto deste ano.

Ao contrário de Hans Werner Henze, preciso dizer que nunca entendi NEM UM POUCO a música de Carter. De linhagem obviamente pós-weberniana, sua linguagem ainda me é completamente incompreensível. Quem sabe um dia?

Para homenageá-lo, algo “conservador” mas curiosamente moderno: a Sonata no. 2 de Frédéric Chopin, célebre por seu movimento lento, uma marcha fúnebre.

Chopin, aquele dos açucarados “Noturnos”, moderno? SIM! A obra é de 1839. A estrutura, em quatro movimentos, parece convencional. Mas dá só uma olhada de perto. O primeiro, após uma introdução lenta, é agitado e turbulento, com um “demonismo” pouco ligado ao nome de Chopin. OK. O segundo é um scherzo relativamente pesado, que só relaxa com um longuíssimo trio, de melancolia tipicamente chopiniana. OK.

O scherzo termina meio interrogativo, já encaminhando o clima do terceiro movimento, bem diferente: uma marcha fúnebre, obviamente sombria, porém seca, praticamente livre de sentimentalismos (à parte a seção central, lírica e toda “embelezada”). Hmm, interessante, já começaram a pipocar pontos de interrogação nas nossas mentes. Mas não é só isso: o enigma continua. Após a desolação agreste da marcha fúnebre, um quarto movimento curtíssimo, mega rápido, esquisito, anguloso, que parece não querer dizer nada. É assim, pá, pum, acabou. Uau!

Cacete, o que quis Chopin com esse finale? Os pontos de interrogação da marcha fúnebre se multiplicam. A impressão final da sonata é mais que desoladora, é devastadora. A marcha fúnebre, como comumente no romantismo, deveria ser resolvida por movimentos rápidos, mais afirmativos (vide o Quinteto para piano de Schumann). Não, Chopin a continua com um movimento que só reforça o sentimento de estranheza. Para a morte, não há solução.

Isso é moderno. Será que Carter gostava de Chopin?

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Post escrito por Adriano Brandão em 06/11/2012. Link permanente.