Stravinsky

“A sagração da primavera”

por Adriano Brandão

Hoje é quarta, o dia mais esperado da semana. Sabem por quê? Porque é dia de entregar o SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO, a maior honraria da música clássica mundial, quiçá universal! (Só perdendo para o Prêmio Bravo, é claro. Pun intended.)

Atenção para a reciclagem de texto:

Anteontem morreu outro importante compositor contemporâneo, o americano Elliott Carter. Carter foi um prodígio de produtividade e longevidade: viveu 103 anos, compondo até seus últimos dias. Sua última obra é de agosto deste ano.

Isso já falamos ontem. O que não comentamos é que a obra que mais influenciou Elliott Carter, que definiu sua carreira como compositor, é justamente a agraciada de hoje: “A sagração da primavera”, de Igor Stravinsky.

Gentes, vejam só: a obra, decisiva para os rumos da música do século 20, moderna e chocante até para os ouvidos atuais, é uma velhinha de 99 anos. Grandes obras-primas, música digna do GRANDE CARVALHO, é assim mesmo: fresca e atual para sempre.

Stravinsky teve muito de sua carreira ligada a uma companha de dança, os Balés Russos, empresa capitaneada por um dos maiores mecenas da história, Sergei Diaghilev. O jovem Stravinsky ainda era um compositor obscuro, aluno de Rimsky-Korsakov, quando Diaghilev o chamou – primeiro para um arranjo de Chopin, depois para o que viria a ser o balé “O pássaro de fogo”, sua primeira obra-prima.

Ainda de linguagem romântica, bem korsakoviana, “O pássaro de fogo” foi um sucesso. O que o público parisiense não esperava era que, no ano seguinte, Stravinsky e Diaghilev apresentassem uma obra tão diferente como “Petrushka”. QUE CHOQUE! “Petrushka” é uma verdadeira festa de colagens, citações, ritmos, cores… moderno pacas! E também foi um sucesso.

Em 1913, a dupla apavorou de novo, com “A sagração da primavera”. E não foi um sucesso – foi um escândalo completo. Na estreia, um dos eventos mais famosos da história, espectadores se agrediam com gritos, ofensas e guardachuvadas. Entre vaias e assobios, ninguém ouviu a música. Uns meses depois, em forma de concerto, a “Sagração” foi um putz êxito. (Cá entre nós, ela se consolidou nesse formato – encenações completas são relativamente raras.)

O que ninguém na tumultuada estreia parisiense ouviu: a música é uma revolução total. É o primitivo e o instinto posto em música, como nunca tinha sido feito antes. Difícil descrever. Em mais ou menos trinta minutos – que passam voando -, nossos ouvidos são constantemente desafiados por combinações rítmicas, harmônicas e tímbricas absolutamente inéditas e MUITO FODAS. É aterrorizante, é excitante, é sensorialmente maravilhoso, é intelectualmente instigante. E a mocinha morre no final. (Ops. Spoiler.)

Não à toa a “Sagração” influenciou tremendamente toda a geração que se seguiu. Além de Carter, autores como Villa-Lobos ficaram entusiasmados pela obra de Stravinsky (“Rudepoema” que o diga). O interessante é que Stravinsky não quis usar novamente o molde. OK, é possível escutar algo da “Sagração” em “As bodas”, por exemplo. Mas, essencialmente, essa Rússia primitiva que ela evoca não voltaria mais. A “Sagração” foi um fenômeno totalmente definidor – mas isolado.

Eu tenho, cá pra mim, que “A sagração da primavera” é a maior OBRA DE ARTE do século 20. Não obra musical. Obra de arte, no geral. Não tem Picasso ou Mann que rivalize.

Acho, por isso, que TODO SER HUMANO deveria conhecer essa obra, e bem. Tinha que fazer parte dos direitos básicos do cidadão. Tipo saber ler e escrever. Fazer contas. E conhecer “A sagração da primavera”. Não necessariamente nessa ordem :)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 07/11/2012. Link permanente.