Bartók

Concerto para violino no. 2

por Adriano Brandão

Nosso amigo Béla Bartók é um dos compositores mais consistentemente geniais de todos os tempos. Prova disso está cá no blog: contando hoje, das quatro obras suas que comentamos, três delas ganharam o SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO – uma performance notável!

O segredo do sucesso está no gosto de Bartók pela ciência e pelo método investigativo que ela pressupõe. Nada – ou muito pouco, se descontarmos alguma obra de juventude – que ele compôs é fruto de inspiração sem trabalho. Acho que a experiência de Bartók como musicólogo de campo, recolhendo cantos folclóricos húngaros com o rigor de quem coleta vestígios arqueológicos, tem muito a ver com a perfeição cerebral de sua música.

Um dos melhores exemplos está no maravilhoso Concerto para violino no. 2, que compôs em 1938. A obra foi encomendada pelo amigo Zoltán Székely, violinista virtuose. Bartók, a princípio, estava disposto a compor um conjunto de variações para violino e orquestra, e propôs isso para Székely. O instrumentista repeliu – queria um concerto tradicional, em três movimentos. O compositor não se fez de rogado: fez do movimento lento um conjunto de variações, super estritas, de um cerebralismo bachiano (e ao mesmo tempo lindas de morrer!).

Calma que não acabou. Variações sobre um tema são uma coisa. E uma variação sobre um movimento inteiro? Ha! Foi o que Bartók criou aqui: o terceiro movimento é uma variação perfeita do primeiro, com os mesmos temas e mesma forma geral. É mais ou menos como se Bartók tivesse recomposto o movimento inicial de novo. Isso dá ao concerto um caráter parrudo, sinfônico – ao invés de encerrar com o usual rondó, ou algo dançante e leve, Bartók nos dá outra dose de música espessa como uma sopa grossa. É genial!

Volto ao primeiro movimento para comentar algo fascinante. Lembra quando eu comentei dos estudos etnomusicológicos de Bartók? Eles não serviram somente para dar ao compositor esse hábito científico. O contato com o folclore magiar forneceu a Bartók muita, muita inspiração, principalmente melódica e rítmica. Ouçam o comecinho do concerto – a harpa, a trompa, os pizzicatos, o tema dado ao solista. É incrivelmente moderno, novo… e fortemente baseado no folclore. E é de uma beleza absurda!

Vamos fazer uma eleição rápida? De qual obra é o início mais incrível de todo o repertório? O Concerto para violino de Beethoven? A Nona de Mahler? O Concerto para violino de Barber? O Requiem de Mozart? A “Sagração da primavera”? Nada – pra mim é o Concerto para violino no. 2 de Bartók. E tenho dito!

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 09/04/2014. Link permanente.