Bartók

Música para cordas, percussão e celesta

por Adriano Brandão

Hoje é quarta, e quarta aqui na Ilha é dia de condecorar grandes obras-primas com o SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO \o/

E a agraciada do dia é a “Música para cordas, percussão e celesta”, do húngaro Béla Bartók. Obra de 1936, composta para atender a uma encomenda do regente e milionário suíço Paul Sacher, rapidamente entrou no cânone universal. É das maiores obras do século 20 e também de todos os tempos!

Vejamos: ao bolar a obra, Bartók optou pelo controle e pela perfeição. A obra é instrumentada para dois grupos de cordas completos, colocados em lados opostos do palco, mais um grupo de percussão (xilofone, caixa, tímpanos etc) que fica no centro (as posições são especificadas pelo autor). E a celesta, que é este instrumento aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Celesta. Ah, e tem um piano também! Ele não está especificado no título. Seria o piano do time das cordas ou do time da percussão? Ou do time da celesta? :-P

(Eu particularmente voto em #TeamCelesta! #TeamCelesta FTW!)

A peça tem quatro movimentos, alternadamente rápidos e lentos. O primeiro é lento, uma fuga impressionante, que cresce e cresce e cresce e cresce em intensidade… até explodir e voltar ao início. O segundo é um grande jogo de tênis entre as duas orquestras de cordas (não se esqueça de escutar com fones de ouvido!). O terceiro é um adagio tipicamente “noturno”, repleto de climas e ruídos misteriosos, exatamente como sons da natureza. E o quarto adota a expressão da dança popular, agitada e alegre, meio selvagem.

Tudo isso é amarrado pelo uso da chamada “sequência de Fibonacci” e pela razão áurea que a define. Sem entrar em complexidades:: a razão áurea é a proporção considerada perfeita, de 3:5 (pense num retângulo de 3 x 5 cm). A sequência de Fibonacci é uma sequência de números em que cada item é a soma dos dois itens anteriores: 0-1-1-2-3-5-8-13. Note o 3-5 ali, e os equivalentes 5-8, 8-13 etc: todos são pares em proporção áurea.

Bartók utiliza conscientemente todos os pontos de razão áurea para demarcar formalmente sua obra: eventos importantes, como mudanças de movimento, tonalidade, ritmo, intensidade etc, tudo acontece em proporção áurea. A sensação que passa ao ouvinte é a de perfeição e inevitabilidade – nada parece arrastado ou alongado, mas natural e precisamente colocado. Matemágica, meus caros! :)

Último ponto: a peça não se chama sinfonia, concerto, sonata ou suíte. Ela se chama simplesmente “música”. Bartók, no título, consagra a abstração a que almejava. É música que não significa nada, música que contém perfeitamente a si mesma (mesmo com tantas referências ao folclore e à natureza!). Tal obra merece mesmo um título assim: “música”. E ponto final.

Amigos, amigas, por mais que eu escreva, nunca será o suficiente. Acima de qualquer descrição, a “Música para cordas, percussão e celesta” é simplesmente DO GRANDE CARVALHO!

O melhor que temos a fazer agora é ouvi-la. De joelhos, é claro. ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 24/10/2012. Link permanente.