Bizet

Sinfonia em dó maior

por Adriano Brandão

Segunda-feira é dia de dar seguimento à nossa série “História e glória da sinfonia romântica francesa, de Gounod a Dukas (ou) O incrível caso das sinfonias gêmeas”. Sente-se e fique à vontade :)

Na semana passada, falamos da Primeira Sinfonia de Gounod, uma obra de 1855 que bem poderia ter sido escrita por Mendelssohn 25 anos antes. Apesar do incrível anacronismo, a sinfonia foi um sucesso. Registros apontam que ela foi executada uma dezena de vezes em seu ano de estreia, só em Paris, um feito realmente admirável para a época. Além de ter emplacado sua sinfonia, Gounod – como era praxe – também buscava o sucesso no teatro (conseguiu quatro anos depois, com a ópera “Romeu e Julieta”) e dava aulas no Conservatório de Paris.

Tinha, portanto, seguidores. Um deles tinha 17 anos, era seu aluno no Conservatório e tinha um talento incrível. O nome: Georges Bizet. É, o mesmo Bizet da ópera “Carmen”! Para conseguir um dinheirinho extra, o jovem Bizet realizou a transcrição para dois pianos da Primeira de Gounod. Em seguida, ganhou do próprio mestre uma tarefa: compor uma sinfonia.

O resultado é esta Sinfonia em dó maior, completada no final de 1855. Tarefa realizada, Bizet estava satisfeito. Colocou a sinfonia em uma gaveta e seguiu seus estudos. Em 1858 ganharia o Prêmio de Roma e começaria uma carreira que, mesmo auspiciosa, nunca atingiria pleno sucesso – “Carmen”, de 1875, teve estreia desastrosa – e que terminaria tragicamente cedo com a morte precoce do compositor.

(Nem é preciso dizer que, postumamente, “Carmen” estourou para se tornar, talvez, a ópera mais popular de todos os tempos.)

Mas tergiverso :) Prêmio de Roma, “Carmen” e morte precoce se passaram, e a Sinfonia em dó maior ainda estava na gaveta. A viúva do compositor acabou passando o manuscrito adiante, que de mão em mão acabou na biblioteca do Conservatório. Muitos anos depois, em 1933, a partitura chamou a atenção de um historiador que a mostrou para o famoso regente Felix Weingartner. Ele se apaixonou pela obra e, em 1935 – exatos 80 anos após sua composição -, a sinfonia enfim estreava.

Nenhuma surpresa: a obra é muito parecida com a Primeira de Gounod. Total surpresa: a obra é MUITO MELHOR que a Primeira de Gounod. Mesmo sendo IRMÃ GÊMEA da criação célebre de seu professor, a sinfonia de Bizet revela muito mais viço e inspiração. Ouça só o belíssimo movimento lento, amplamente anunciador de obras futuras como “Os pescadores de pérolas”. É encantador – e Bizet só tinha 17 anos!

Com a advocacia de Weingartner, a Sinfonia em dó maior conquistou o público e hoje faz parte do repertório padrão. Já a Primeira de Gounod foi praticamente esquecida.

Mas isso aconteceu no século 20. No século 19, a sinfonia romântica francesa iria seguir outros caminhos. Segunda-feira que vem continuamos essa história :)

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Post escrito por Adriano Brandão em 24/09/2012. Link permanente.