Brahms

Concerto para piano no. 2

por Adriano Brandão

Todo adolescente tem um herói. O meu foi Johannes Brahms, e para mim a sua proeza épica foi o Concerto para piano no. 2, de 1881.

Nada mais justo que ele ganhe o SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO! \o/

Conheci Brahms no começo dos anos 90 e entre as obras à minha disposição, estava este Concerto no. 2. Achei todas meio complicadas, mas aos poucos fui me apaixonando pela Sinfonia no. 4, pelo Concerto para violino, pelas obras para piano… e nada de entender o Segundo Concerto. Fui tentando, fui tentando, diariamente. E, de repente, CLIC. Saquei a música. E, quando me dei conta, estava totalmente rendido.

Configurou-se aí um vício. Eu não conseguia ficar um dia sem ouvir o concerto. Criei um ritual diário, que perdurou por certo tempo: todas as noites, antes de dormir, já deitado, no escuro, ouvia a gravação de Sviatoslav Richter. Era definitivo. O Concerto no. 2 de Brahms não poderia ser outra coisa senão a minha obra musical favorita, minha obra de arte favorita, o maior feito desse herói barbudo e tomador de chope.

Brahms é assim mesmo. Por trás daquela cara de profeta bíblico e das formas perfeitas e sisudas de concertos, sinfonias e sonatas cuidadosamente estruturadas, um BAITA DE UM CORAÇÃO PEGANDO FOGO. Só que não é fácil encontrá-lo.

O Concerto no. 2 é uma obra revolucionária para os padrões brahmsianos. Ao contrário de suas irmãs, ele foge da roupagem tradicional: ao invés de três movimentos, tem quatro. Entre o allegro inicial e o andamento lento, um scherzo tempestuoso e complexo, de sabor meio cigano, com uma das seções centrais mais intensas do repertório.

Mas voltemos ao começo. O concerto se inicia com a trompa, que logo ganha a companhia do piano. E, surpresa, uma pequena cadência (escrita) para o solista, coroada pela exposição completa do tema inicial pela orquestra. Depois, uma festa de desenvolvimento temático e sons inquescíveis – é música de qualidade ABSURDA, caríssimos, daquelas que temos vontade de emoldurar e pendurar na parede.

No monumento lento – ops, movimento! ato falho! -, Brahms adiciona ao concerto um segundo solista temporário, o violoncelo, que é quem de fato recebe a função de carregar o (maravilhoso) tema, em estilo de cantilena. O piano não repete esse motivo principal. Só o desenvolve, o varia, cria encima dele. É bonito demais da conta, sô!

O finale é leve e divertido, um rondó-sonata também cheio de toques ciganos (ou “húngaros”, como se dizia à época). Brahms nunca esqueceu o que aprendeu em seus anos de adolescente, que passou excursionando com o violinista húngaro Eduard Reményi.

Eu também nunca me esqueci do que aprendi quando adolescente, época em que passei ouvindo esta música maravilhosa. Obrigado, Johannes. Eu não poderia ter tido um herói melhor.

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Post escrito por Adriano Brandão em 05/12/2012. Link permanente.