por Adriano Brandão
Santa Cecília!
É o dia dos músicos e também o aniversário do principal compositor inglês do século 20, Benjamin Britten.
Britten ocupa uma posição realmente especial na música moderna. Fez música tonal, neo-romântica, em plenos anos 1940, 50, 60. OK, vários outros fizeram. No mundo anglófono tal postura era relativamente comum. Tem Vaughan-Williams, uma geração mais velho, mas posso me lembrar de Walton ou de americanos como Barber e Hanson. A questão é: ao contrário da maioria de seus contemporâneos tonais, Britten conseguiu criar e manter uma linguagem profundamente pessoal. É um feito e tanto!
O melhor dos esforços de Britten foram dedicados à ópera. Seu primeiro grande sucesso no teatro foi “Peter Grimes”, de 1945. A história da peça é a seguinte: Peter Grimes, um pescador de uma vilinha do litoral da Inglaterra, é acusado de matar seu assistente. Ele alega acidente e, apesar da má vontade dos moradores locais, é inocentado. Grimes precisa de outro auxiliar e consegue, graças a uma amiga, um garoto. No primeiro trabalho ele acaba se machucando. A população desconfia do arranhão no menino e Grimes foge com ele para o mar. Na pressa de entrar no barco, o assistente cai do penhasco e morre. Quando Grimes volta para a vila, após algum tempo, a população se dá conta da morte do garoto e obriga Grimes a fugir com seu barco, para nunca mais voltar.
É uma história sombria, que lida basicamente com o tema da proscrição: o quanto uma comunidade repressora, semi-acéfala, consegue isolar um indivíduo. (Fácil ligar essa temática à própria aflição de Britten enquanto homossexual em uma sociedade hostil.)
Britten separou quatro trechos orquestrais da ópera em uma suíte de concerto chamada “Quatro interlúdios marinhos”. Cada um dos interlúdios representa não um ponto crucial da ação, mas uma atmosfera fundamental. O primeiro retrata o amanhecer no litoral inglês – sombrio, lento, cheio de sonoridades impressionantes. O segundo é uma descrição do domingo de manhã e dos moradores da vila indo à igreja – muita inquietação escondida atrás da aparente normalidade. O terceiro é a noite no mar, solenemente construída. O quarto é menos climático. Trata-se de uma tempestade. É o ponto mais convencional da suíte, mas que a faz concluir de maneira marcante.
A música é absolutamente impressionante. Sente-se em cada nota a desolação do ambiente e também do personagem principal, oprimido pela massa. A harmonia é milagrosa – ainda ligada à tradição, mas repleta de novidades incríveis. O estilo é absolutamente único, totalmente diferente do esperado para uma obra tonal de 1945. E, acima de tudo, é impossível não se emocionar com a beleza dos sons.
Audição obrigatória! E tá fácil: é só clicar ;-)
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 22/11/2012. Link permanente.