Bruckner

Sinfonia no. 8

por Adriano Brandão

Quarta-feira é dia de honrarias aqui na nossa querida Ilha. Como vocês sabem, homenageamos obras-primas absolutas da música com o prestigioso SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO. Já falamos de Brahms e de Bartók. Por ora, continuaremos na letra B :) Hoje o selo vai para a Oitava Sinfonia de Anton Bruckner. Preparem-se!

Bruckner é um compositor complicado. Sua música inevitavelmente cai na dicotomia amo/odeio. Estou do lado do amor, é claro ;-) Mas tem muita gente que não consegue engolir bem o estilo bruckneriano.

Tal rejeição tem motivo: Bruckner criou uma linguagem muito pessoal, realmente diferente do padrão. Seu estilo inusitado inclui temática bipolar (temas pontuados, declamatórios, convivendo com outros mais líricos e ainda outros em estilo de “hino”), retórica permanentemente fragmentada (longos parágrafos contrastantes colocados lado-a-lado de maneira abrupta, às vezes com grandes pausas entre eles), forma expandida (obras bem grandes, com muitos temas, um monte de centros tonais, codas, introduções…) e uma orquestração organística, em blocos (muito metal, cordas graves, longos trêmolos) com linguagem harmônica mezzo schubertiana mezzo wagneriana (cromatismo!). É uma combinação maluca e à primeira vista difícil de digerir.

Bruckner, tal como Mahler, dedicou o melhor de si à composição de sinfonias. Compôs nove (mais outras duas não numeradas, curiosamente conhecidas como “00” e “0”). A Oitava, cuja versão definitiva foi completada em 1890, é o ponto culminante dessa produção. Gigante – cerca de 80 minutos -, de expressão trágica, ela, tal qual o GRANDE CARVALHO, se impõe perante todas as outras.

A Oitava começa com um movimento de rara intensidade e concentração para Bruckner. O tema principal, de rítmica semelhante à do motivo de Siegfried (lembram-se do “Anel” de Wagner?), já soa logo de cara, nos lançando sem demora a um mundo de dramaticidade, austeridade e certo patetismo. É avassalador. Após tanta tensão, o movimento termina sem a devida resolução de seus dilemas, num silêncio pessimista. A energia acumulada passa diretamente para o segundo movimento, um scherzo ABSOLUTAMENTE FODÁSTICO, que contém em seu miolo um trio sonhador realmente de outro mundo.

Passada meia hora, já estamos totalmente rendidos pela música. Mas ainda tem muito mais! Os dois próximos movimentos, ainda mais longos, reservam intensa beleza. Ouça o Adagio, longuíssimo e emocionante, com clímaxes construídos da maneira mais simples (são só escalas! caceta!) e efetiva (pegue os lenços!). E o imponente Finale, que começa com o gás todo e só faz crescer em complexidade formal e contrapontística, citando em momentos relevantes os temas dos movimentos anteriores até a conclusão apoteótica.

Pessoas… é ou não é DO GRANDE CARVALHO? \o/

Bruckner merece mais atenção. Você merece mais Bruckner. Go for it!

[Ah, sim! O vídeo abaixo é um registro muito especial de um concerto regido por Herbert von Karajan na catedral de St. Florian, onde Bruckner foi por muito tempo organista e onde estão seus restos mortais. Karajan era expert em Bruckner e mais ainda nesta Oitava. É sensacional!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 31/10/2012. Link permanente.