Debussy

“O mar”

por Adriano Brandão

Creio que o legado de Claude Debussy não seja suficientemente lembrado. O cara criou uma linguagem inteiramente nova, quase do zero, que influenciou de maneira decisiva a história da música do século 20. E é bem menos ouvido do que deveria.

Contemporâneos como Mahler e Strauss seguem bem mais populares. Todos foram muito relevantes, mas na minha opinião o “som” criado por Debussy foi absolutamente fundamental para a produção pós-Segunda Guerra.

A principal obra de Debussy é, certamente, “O mar”, suíte sinfônica de 1905. Não: “O mar” é uma das maiores obras-primas do século 20. Não: “O mar” é uma das maiores obras-primas da HISTÓRIA, uma peça totalmente merecedora do SELO DE EXCELÊNCIA DO GRANDE CARVALHO e, principalmente, de nossa audição. Então vamos lá! \o/

Falei suíte sinfônica e é esse o nome que Debussy escolheu para classificar sua obra. Mas poderia ter chamado de “Sinfonia” e estaria perfeito! “O mar” é dividido em três movimentos, cada um deles descrevendo um aspecto do oceano. Aliás, vale ressaltar: é uma descrição mesmo, quase pictórica. Nenhum “evento” acontece. Não há seres humanos, embarcações, deuses, fadas, ninfas, espíritos ou mesmo animais no mar debussista. Apenas água, ondas, rochas, o vento, a luz do sol…

O caveat acima pode ter passado a impressão de monotonia, mas não. Debussy opera aqui o milagre de construir uma música que se renova o tempo todo, com material que praticamente não se repete e que cativa o ouvinte a cada instante!

Voltemos ao pedigree sinfônico de “O mar”: seus três movimentos já revelam a ligação com a forma tradicional de sinfonia. A primeira parte, dita “Da madrugada ao meio-dia no mar” lembra um primeiro movimento com a costumeira introdução lenta; a segunda parte, “O movimento das ondas”, é em tudo um scherzo; o último trecho, “Diálogo do vento e do mar” serve como um finale dinâmico, que injeta algum drama a uma peça que, em geral, é muitíssimo mais contemplação que ação.

Há muita novidade em “O mar”. A orquestração é maravilhosa, “recheada” mas transparente, muito diferente da tradição germânica, por exemplo. O jeito como Debussy desenvolve seus temas, dá unidade à obra e cria grandes arcos narrativos é profundamente original. E, acima de tudo, o “som” geral é totalmente único – Debussy opera diversas revoluções, mas é mais revolucionário ainda na harmonia!

Gente, é DO GRANDE CARVALHO demais – então chega de papo e vamos ouvir. Clicaê!

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Post escrito por Adriano Brandão em 19/02/2014. Link permanente.