Field

Concerto para piano no. 2

por Adriano Brandão

Hoje começa mais uma nova série aqui na Ilha! Serão seis episódios temáticos, sempre às segundas-feiras, e o assunto não poderia ser mais cativante: o concerto para piano romântico!

Mas a abordagem desta vez será um pouquinho diferente. Ao invés de seguirmos na usual ordem cronológica, a ordem será feita em duplas, agrupando obras de parentesco estilístico evidente. Concertos gêmeos? Às vezes sim, às vezes nem tanto, mas sem dúvida ligados. Com esses pares tentaremos mostrar como o estilo de concerto para piano evoluiu no século 19.

Quando penso em concerto para piano inevitavelmente penso em Mozart e Beethoven. São realmente o ponto de partida desta saga. Mas ao olharmos a história do concerto para piano verificamos um salto estilístico entre esses grandes pioneiros e os autores que lhe sucederam. Acompanhe: o modelo mozartiano é clássico e equilibrado, com as vozes de solista e orquestra se entrelaçando e se completando. Já o estilo concertante de Beethoven é basicamente sinfônico, com ênfase no desenvolvimento temático e no diálogo entre opostos – piano e orquestra.

A modalidade romântica de concerto não é nem uma coisa nem outra. Ela privilegia o solista, não tem o aspecto camerístico mozartiano nem a narrativa sinfônica que imaginamos do estilo beethoveniano. O típico concerto oitocentista é uma peça criada por um compositor-virtuose para servir de oportunidade de demonstração de seu domínio do instrumento. Tem que ter música variada, passagens difíceis e colocar sempre o solista em evidência – esta é a fórmula.

Em busca do “elo perdido” do concerto romântico encontrei o encantador Concerto para piano no. 2 do irlandês John Field. Quem? É, este camarada, contemporâneo próximo de Paganini, sumiu do repertório, mas ele foi um bocado influente em sua época. Concorrido virtuose do piano, após peregrinar pela Europa se estabeleceu na Rússia, onde praticamente criou sozinho a escola russa de piano. Não somente: inventou um gênero que Chopin tornaria célebre, o “noturno”, e compôs sete concertos que foram avidamente consumidos por seus pares.

Este segundo concerto, que era amado por Schumann, é uma curiosa mescla do estilo mozartiano (principalmente no desenho dos temas) com características pessoais que se transformariam em padrão na primeira metade do século 19: um primeiro movimento longuíssimo, cheio de episódios meio desconectados, e domínio completo do piano sobre a orquestra (muito evidente no movimento central, um belo e breve noturno).

Essa insistência do piano em ficar “pianando” incessantemente é um dos traços clássicos do concerto oitocentista. A orquestra, onde está? Criando muito carinhosamente um cenário bonito para o piano derramar suas milhões de notas :)

Apesar de ser uma obra menor, acho o Concerto no. 2 de Field incrivelmente intrigante por ser essa mescla do antigo com o novo. Acho que faz sim um bonito papel de “elo perdido” entre as obras-primas concertantes de Mozart e Beethoven e o que os grandes românticos vão criar em seguida.

Aliás, qual é o concerto que faz parzinho com este Field? Assunto do próximo episódio! :) Alguém arrisca? Tá fácil! Ouve aí e dê seus palpites! ;-)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 24/02/2014. Link permanente.