Roussel

“Baco e Ariadne”

por Adriano Brandão

Todo mundo tem um ano bom. O ano bom de Albert Roussel foi 1930. Nele ele compôs suas duas grandes obras-primas: a Sinfonia no. 3 e este incrível balé “Baco e Ariadne”. Salve 1930!

Antes, Roussel não havia encontrado uma linguagem própria. Estava indefinido entre o impressionismo de seus contemporâneos próximos Debussy e Ravel, e o formalismo germânico que lhe chegava via Franck e a Schola Cantorum. Foi com essas duas peças que Roussel firmou um estilo mais pessoal, vigorosamente neoclássico. E ele é realmente impressionante.

(Preciso confessar que não consigo engolir muito bem o Roussel anterior… nem o posterior, que estica o neoclassicismo de 1930 a um extremo de secura e sisudez.)

Acho mesmo que “Baco e Ariadne” é o apogeu da obra de Roussel e uma das jóias esquecidas da música do século 20. Como o nome adianta, o balé se passa na Grécia mitológica. O casting de sua estreia impressiona: coreografia de Serge Lifar e cenários de De Chirico, uau! Mas foi um fracasso. A obra acabou vingando na sala de concertos, na forma de duas suítes que nada mais são que as duas cenas do balé, ipsis litteris.

O plot lida com os eventos posteriores à vitória de Teseu sobre o Minotauro (logo no início da peça). Ariadne, filha de Mino, rei de Creta, havia se apaixonado por Teseu e o ajudara a andar no famoso labirinto (graças ao novelo!). Na fuga de Creta, Teseu levou Ariadne a Naxos e, enquanto ela dormia, foi embora para o mar. Ela acorda, abandonada. Desesperada, quer se jogar dos rochedos, quando é salva pelo deus Dioniso. Não sem uma longa corte, repleta de idas e vindas, ele a beija e a transforma em sua esposa, a alçando à imortalidade.

A música criada por Roussel reflete o dinamismo e a atmosfera ensolarada da lenda grega. Ela começa já a todo vapor, com ritmos vigorosos, cheios de acentos irregulares, que agarram o ouvinte pelo pescoço – é, meu amigo, você vai ficar na ponta do sofá, com o coração acelerado, até a música cessar!

No meio de tanta ação, um tema absurdamente maravilhoso surge – é o tema da união entre Ariadne e Baco, que fica mais claro quando os dois se beijam e, bem no finalzinho, após a incrível “bacanal”, quando Ariadne enfim se torna deusa. É lindo demais. A respiração para, o olho fica marejado, de repente as coisas ao nosso redor se transformam…

A gente escuta “Petrushka“, a gente escuta “Dáfnis e Cloé”, mas não ouve “Baco e Ariadne”! Por quê? Repare este erro AGORA! Se a sua vida não mudar, pode vir falar comigo – aqui é satisfação garantida ou seu dinheiro de volta! :)

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 21/02/2014. Link permanente.