Franck

“O caçador maldito”

por Adriano Brandão

A semana começa e a nossa série, “Mágico, fantástico, lendário”, continua! Já falamos d”O franco-atirador” de Weber e d”O navio fantasma” de Wagner. O personagem de hoje tem muito em comum com esses dois anteriores, com uma grande diferença (ATENÇÃO, SPOILER!): ele se dá mal.

Trata-se do poema sinfônico “O caçador maldito”, do belga César Franck, de 1882. Como nas obras anteriores, a historinha é baseada em antigas lendas alemãs. Aqui o protagonista é um conde renano que desafia as ordens da igreja e resolve caçar em pleno domingo de manhã. Como punição, é amaldiçoado: se transforma em caça, sendo perseguido pelos lendários caçadores fantasmas por toda a eternidade, sem descanso.

A peça começa com uma sobreposição genial: o toque de caça do conde, desafiador, e os cânticos da igreja. Em seguida, o conde embrenha-se na floresta – a fanfarra de aventura constantemente martelada. No meio da caçada, uma seção mais lenta, aterrorizante: a maldição vai tomando forma. E a caçada recomeça, mas as posições se invertem: os caçadores agora são os espíritos dos quais o conde deve fugir, para todo o sempre.

Não é difícil sacar os pontos de contato entre as lendas do atirador, do holandês e do caçador: a soberba que leva à transgressão que leva à punição. Se você observar, praticamente todos os contos de fada, de todas as culturas, são moralizantes. A comunidade é sempre cruel: há muito pouco perdão para quem dá uma escorregada.

E a música de Franck? Empolgante, dos grandes poemas sinfônicos franceses do século 19. Não que tenha sido uma forma muito cultivada na França. Foram Franck e Saint-Saëns que trouxeram esse gênero, fundamentalmente alemão, para terras francesas. Não à toa, o maior e mais famoso de todos os poemas sinfônicos franceses deve muitíssimo a “O caçador maldito”, em todos os sentidos. Mas é assunto para a semana que vem. ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 28/01/2013. Link permanente.