Gomes

“O guarani”, abertura

por Adriano Brandão

Hoje comemora-se o aniversário desta República Federativa do Brasil. Ela é novinha, tem somente 123 anos. Nasceu em 15 de novembro de 1889, batizada de República dos Estados Unidos do Brasil – uia, já fomos estadunidenses -, num golpe militar que despachou um monarca popular mas francamente desinteressado.

Antes éramos bizarramente o Império do Brasil. O país se desanexou de Portugal em 1822, num lance de gabinete, mas manteve os mesmos governantes – a família real portuguesa, agora apoiada por uma oligarquia local que temia a volta do Pacto Colonial. Criação surreal: ex-colonizados criando um novo império na América, sem mudar o comando, em uma época em que impérios já começavam a ruir na Europa.

O imperador derrubado pelos militares em 1889 era Pedro II, um sujeito até culto e bem-intencionado. Gostava de filosofia, ciência e de artes. Manteve correspondência com Richard Wagner e esteve presente ao primeiro Festival de Bayreuth. E mandou um compositor campineiro, Antônio Carlos Gomes, para a Itália estudar.

A história todo mundo conhece: nhô Tonico de Campinas chegou arrebentando, terminou o curso rapidinho e compôs a ópera “O guarani”, baseada no romance de José de Alencar, que estreou em 1870 no Scala de Milão. Foi um imenso sucesso, jamais repetido por nenhum outro compositor brasileiro na Europa. Quando o regime caiu no Brasil, Gomes preferiu ficar na Itália, para só voltar em 1896, convidado para dirigir o Conservatório de Belém. Morreu em seguida.

Gomes é provavelmente o nome maior da música brasileira do Segundo Império. Talvez único. Significativo da nossa imaturidade musical à época: a música de Gomes, a despeito de ser bem-feita e dramaticamente eficiente, de original não tem muito. É ópera italiana de apostila. Influenciou pouquíssima gente aqui no Brasil. Os românticos que lhe sucederam, como Alberto Nepomuceno, Alexandre Levy, Francisco Braga e Leopoldo Miguez, foram todos ligados ao regime republicano e à música alemã.

(Miguez chegou a compor um hino nacional para o novo governo, que o povo não gostou e que teve de se tornar o “hino da república”, até hoje ensinado nas escolas.)

O que ficou de Gomes? No repertório, pouca coisa. Um movimento de uma sonata para cordas, dito “Burrico de pau”, uma canção (“Quem sabe?”), a “Alvorada” da ópera “O escravo” e principalmente a abertura de “O guarani”, abaixo.

Oficialmente “protofonia” (AMIGO INTERNAUTA, será que existe outra abertura que tenha recebido este curioso nome? Cartas para a redação!), é um potpourri de temas da ópera. O comecinho todo brasileiro conhece, graças ao programa oficial de rádio “A voz do Brasil”. Seguem um momento lírico, outro dançante (“O guarani” é uma ópera com grande balé) e um ápice dramático. Termina da maneira convencional de sempre.

A impressão que fica é: OK, parece Suppé, parece Verdi, parece música romântica de ópera genérica. Rola um vazio. O que tem isso de especial?

Bom, julguem vocês :) E bom feriado!

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Post escrito por Adriano Brandão em 15/11/2012. Link permanente.