Liszt

“Totentanz”

por Adriano Brandão

Tirem as crianças da sala! /o\

Hoje vamos falar de três assuntos MUITO FODAS. Preparados?

1. Traduzir nomes de obras é MUITO FODA!

Cá nesta Ilha seguimos um padrão que é o seguinte: nome de obra sempre em português. Não tem sentido eu, em busca de uma pureza linguística, tentar empurrar nomes originais como “Die Entführung aus dem Serail”, “A kékszakállú herceg vára” ou “Příhody lišky Bystroušky”, se é tão mais fácil mencionar “O rapto do serralho”, “O castelo do Barba-Azul” e “A raposinha esperta”.

MAS… às vezes há nomes bastante conhecidos no original, o que levanta a dúvida se, em nome da comunicabilidade, devemos mesmo traduzi-los. Alguns eu tomo a liberdade de traduzir, sim, apesar de seus nomes originais serem mais correntes. Por exemplo: “La mer” e “Jeux” de Debussy, que insisto em chamar de “O mar” e “Jogos”; ou “Central Park in the dark” de Ives, cuja rima eu mato para chamar de “Central Park no escuro”.

OUTRO MAS… em alguns casos isso é impossível. Você iria ao teatro assistir à “Transviada” de Verdi? Ou à sala de concertos ouvir a “Rapsódia em azul” de Gershwin? Nessas horas, capitulo.

2. Liszt foi MUITO FODA!

Se tem um compositor injustiçado pela posteridade é o nosso amigo Franz Liszt. Mas o cara teve uma influência GIGANTESCA na história da música, muito mais do que costumamos lembrar. Ele inventou a forma cíclica, o poema sinfônico, o virtuosismo transcendental, o modelo do intérprete moderno, o padrão do superstar pop, o antibiótico (não, esse foi Alexander Fleming)…

Além de pianista inigualável – a ver na dificuldade de suas obras e a acreditar nos relatos da época -, Liszt foi um criador altamente inventivo. Suas pesquisas em termos de formas, expressão e harmonia estavam bastante à frente do seu tempo. A Sonata em si menor, para piano, é de 1854, e a “Sinfonia Fausto”, que já comentei aqui, é de 1857, para ficar em só dois exemplos. Reflexos dessas obras seriam observados somente em 1880, 1890, 1900…

Foi Liszt, mais do que qualquer outro músico de seu tempo, que inventou a cara da segunda metade do século 19 e da transição para o 20. Sem Liszt, não teríamos Saint-Saëns, Dvorák, Franck, Rimsky-Korsakov, Borodin, Richard Strauss, Mahler, Stravinsky, Bartók…

3. O “Dies irae” é um tema MUITO FODA!

Já comentei sobre esse hino latino do século 13 várias vezes aqui: Sinfonia no. 3 de Saint-Saëns, “Sinfonia fantástica” de Berlioz, a “Sinfonia Metrópolis” de Daugherty, até a Sinfonia no. 103 de Haydn citam o “Dies irae”. E tem muito mais. Dá até para dizer, com exagero e tudo, que Rachmaninoff construiu toda uma carreira baseada nessa melodia…!

O “Dies irae” é um pedacinho da missa de requiem latina. Seu poema retrata o “Dia de ira”, o dia do juízo final da mitologia cristã. Ele ganhou uma melodia, na tradição gregoriana, que nunca deixou da fascinar os compositores, séculos após sua anônima criação. Essa meia-dúzia de notas é praticamente um símbolo musical de morte e misticismo, citado à exaustão, principalmente no romântico século 19, tão afeito a tal temática.

. MISTURO TUDO NO LIQUIDIFICADOR E…

… apresento-lhes “Totentanz”, de Liszt, variações fantásticas para piano e orquestra sobre o “Dies irae” medieval. Tem virtuosismo, tem clima fantasmagórico, tem invenções musicais incríveis e é de arrepiar os cabelos. E não dá pra chamar de outro nome. “Dança da morte”? Não, é “Totentanz” mesmo e acabou.

Ouçam, se esbaldem, porque é MUITO FODA! :)

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Post escrito por Adriano Brandão em 06/10/2012. Link permanente.