por Adriano Brandão
Estamos prestes a dar uma variada, pelo menos no calendário: amanhã se inicia 2013. Nada mais justo que continuarmos, hoje, a nossa mui aclamada e ansiada série “Vareia!”, um conjunto de variações sobre conjuntos de variações sinfônicas. ;-)
Começamos a série com a Variações sobre um tema de Haydn, de Brahms, composta em 1873. Depois nos afastamos gradualmente do modelo brahmsiano, com Dvorák e o descritivo Elgar. Neste capítulo, já no século 20… vamos voltar a Brahms!
Cacete, como assim?
É que a obra de hoje é um reflexo imediato da linguagem e da forma consagrada pela peça de Brahms: as Variações e fuga sobre um tema de Mozart, do compositor alemão Max Reger, de 1914. Reger provavelmente é um nome desconhecido do público. Da mesma geração de autores como Sibelius, Nielsen, Mahler e Strauss (até um pouco mais jovem), Reger meio que desapareceu do repertório por seu conservadorismo – seu gosto pelo contraponto e pela forma acadêmica já não nos parecem muito pessoais e interessantes.
Pois que poquíssimas obras de Reger permanecem sendo tocadas e ouvidas. Uma delas é, sem nenhuma dúvida, estas Variações Mozart. Reger gostava de variações – compôs um monte delas, principalmente para piano. Usou temas de Bach, Beethoven, Hiller, Telemann, Mozart… Quase todas terminam com uma fuga, bem ao seu gosto. Duas delas são originais para orquestra: Hiller e Mozart.
O tema mozartiano usado por Reger em suas variações foi extraído do primeiro movimento da Sonata no. 11 de Mozart, de 1783, célebre pelo finale em forma de “rondó à turca”. O curioso é que o primeiro movimento da sonata de Mozart já é uma tema-e-variações! Fica para nós, ouvintes, o gostoso exercício de comparar os desenvolvimentos temáticos de Mozart e Reger.
A obra de Reger é dividida em dez partes: o tema mozartiano, oito variações – que vão do leve ao solene, do rápido ao lento – e uma fuga final. Apesar da filiação brahmsiana evidente, Reger opta por manter o tema de Mozart intacto em muitas das variações. São poucos os momentos em que o tema é realmente transformado ao ponto da desfiguração. Gosto especialmente da oitava variação, na qual o motivo rococó recebe um tratamento cromático e se transmuta em um adagio de intensidade mahleriana. É surpreendente!
As Variações e fuga sobre um tema de Mozart são uma adição valiosa ao repertório. Peça belíssima, com algumas interessantes surpresas, viva e espontânea apesar da mão pesada do autor. Se não é mais conhecida, falha nossa. Tratemos de corrigi-la!
Esse foi o último post de 2012. Foi um ano muito especial – esta experiência com a Ilha Quadrada tem sido deliciosa. Que 2013 seja ainda mais mágico e musical! Boa virada a todos! \o/
Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!Post escrito por Adriano Brandão em 31/12/2012. Link permanente.