Villa-Lobos

“Bachianas brasileiras” no. 7

por Adriano Brandão

Domingo é dia de música brasileira aqui na Ilha Quadrada! \o/

(Inventei isso agora! ;-) Espero seguir.)

A série das nove “Bachianas brasileiras” é o conjunto mais popular de obras do nosso maior compositor. As duas primeiras foram compostas em 1930, as outras sete são dos anos 1940. Quer dizer, pertencem ao Villa mais comportado, relativamente “neoclássico”, e não ao Villa modernista, “selvagem”, dos anos 20 (época dos “Choros”). É música mais irregular, com menos “wow moments”, mas ao mesmo tempo mais acessível e comunicativa.

Como fica bem claro no título, o objetivo de Villa-Lobos ao compor as “Bachianas” era aproximar a linguagem da suíte barroca à música brasileira. Os nomes dos movimentos exemplificam bem isso, ao colocar lado a lado um termo formal barroco – “prelúdio”, “tocata”, “giga” – a um nome característico brasileiro – “Canto da nossa terra”, “Quadrilha caipira”, “Modinha”. Com esse gesto, Villa se alinhava, com certo atraso e a seu jeito, ao que se fazia na Europa (“Pulcinella” de Stravinsky, “Os pássaros” de Respighi).

Atitudes clássicas villalobianas: cada obra se chama “Bachianas”, sempre no plural; e as nove obras do ciclo são muito diferentes entre si. Tem “Bachianas” para piano solo, para coro a capella, para orquestra de violoncelos, para soprano e oito violoncelos, para orquestra reduzida, para piano e orquestra, para grande orquestra sinfônica…

A minha “Bachianas” predileta é a sétima, de 1942, para grande orquestra. É a mais sinfônica das nove, super equilibrada. Ao primeiro movimento, um “Ponteio” majestoso e emocionante, seguem-se dois movimentos rápidos, “Quadrilha caipira” e “Desafio”, e uma FUGA FODA que serve de finale. É uma verdadeira sinfonia, melhor talvez que as próprias sinfonias de Villa-Lobos.

A Sétima não ficou tão famosa quanto as “Bachianas” de número 2 ou 5, tão mais características. Mas é obra emocionante que vale ser conhecida. Aliás, cabe aqui um desabafo: TODO BRASILEIRO deveria conhecer bem Villa-Lobos. Lemos Castro Alves, Gonçalves Dias, José de Alencar e Machado de Assis na escola, mas não escutamos Villa-Lobos. Escolas deste Brasil-sil-sil: SHAME ON YOU! Sermos tão ignorantes a respeito do nosso maior músico é uma imensa vergonha.

[As “Bachianas” são mais comentadas que gravadas. Até pouco tempo atrás, pouquíssimas gravações dessas obras tinham qualidade aceitável. As feitas pelo próprio compositor na França, apesar de historicamente importantes, têm som lamentável e execução orquestral errática. O ciclo de Karabtchevsky com a OSB é um show de horrores. Para salvar a pátria, só as gravações isoladas de Enrique Bátiz em Londres e de Michael Tilson Thomas em Miami. Hoje felizmente temos disponíveis dois belos ciclos, que, enfim, fazem jus à música: o de Roberto Minczuk com a OSESP e o de Kenneth Schemerhorn em Nashville. A gravação abaixo é a de Schemerhorn.]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 30/09/2012. Link permanente.