Wagner

“Os mestres cantores de Nuremberg”, abertura

por Adriano Brandão

2013 marca os 200 anos de nascimento de Richard Wagner, um dos maiores (e mais polêmicos) compositores de todos os tempos. Nada mais apropriado que começarmos o ano com um post wagneriano ;-)

Como já comentei aqui, Wagner dedicou-se quaseexclusivamente à ópera. Recurso fácil dizer que sua vocação original era o teatro. Acho que Wagner mesmo se via – e se vendia – assim: um grande dramaturgo, um ensaísta, um intelectual de alcance universal. O que eu digo, com todo o respeito: bullshit. Wagner seria um artista esquecido se se dedicasse às letras ou ao teatro. Só foi o gigante que foi porque tinha um talento absurdo para a música. Compôs, em meio a toda a mistificação que inventou, MÚSICA FODA DEMAIS e é isso que importa.

Quer um exemplo? Mesmo um artista de temperamento completamente diferente como Johannes Brahms, que detestava o clima de messianismo artístico criado em torno de Wagner, simplesmente não tinha o que criticar de obras como “Os mestres cantores de Nuremberg”. E olha que o enredo da ópera de 1867 trata justamente da questão da evolução da arte, ferida ainda aberta desde o manifesto anti-“Nova escola alemã” (leia-se Wagner e Liszt) que Brahms assinou em 1860…

Rapidinho: “Os mestres cantores de Nuremberg” é ambientada na Alemanha do século 16 e conta a história de Walther e Eva, casal de amor intenso e – pra variar – impossível. A mão de Eva já havia sido prometida, por seu pai, ao vencedor do concurso de canto da guilda dos Mestres Cantores, a se realizar. Walther, um jovem cavaleiro, tem de se virar para aprender a ciência dos Cantores e vencer o concurso. Para isso tem a ajuda de Hans Sachs, um dos mais veneráveis Mestres, e enfrenta a oposição de Beckmesser, Mestre que deseja, ele mesmo, levar o prêmio para casa.

Nem preciso dizer que Walther consegue, após uma corrida desenfreada ao aeroporto para impedir que Eva voe para outro país (ops, mentira! não é comédia romântica de Hollywood!). Por trás do plot óbvio, digno de sessão da tarde, há toda uma discussão sobre inovação vs tradição na arte. Walther é o inovador impulsivo, meio alheio ao legado histórico; Beckmesser, o guardião cego das velhas regras; Sachs representa o equilíbrio – que aparentemente Wagner defende – entre tradição e evolução.

A abertura da ópera, composta antes (já em 1862), ilustra bastante bem esse compromisso wagneriano. O tema inicial, majestoso, é o dos Mestres. O segundo motivo, mais despojado, representa a juventude de Walther. O terceiro é o amor entre Eva e Walther posto em música (na ópera servirá como base da “canção do prêmio”, que Walther canta para vencer o concurso). Após episódios contrastantes, os três temas são fundidos em uma incrível FUGA. Sim! De Wagner! E das mais bonitas do século 19!

Como ficar indiferente a música tão SENSACIONAL? Ouçam, ouçam, ouçam! E iniciem 2013 em altíssimo nível! \o/

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 01/01/2013. Link permanente.