Bach

Passacaglia e fuga em dó menor

por Adriano Brandão

Já comentamos sobre “Quadros de uma exposição” e o fascínio que a obra não para de exerce sobre músicos e audiência. Acho mesmo que a peça de Mussorgsky, originalmente para piano, é a campeã de arranjos e recriações. Mas há outra obra que rivaliza com os “Quadros” nesse aspecto: a Passacaglia e fuga em dó menor, para órgão, de Johann Sebastian Bach.

Antes, vamos destrinchar esse nome esquisito. Em três partes: um, dois e já!

PARTE I: PASSACAGLIA

Que raios é uma passacaglia? Trata-se de uma forma barroca de variações. Não é difícil de explicar: pense num tema exposto no baixo, variado de inúmeras maneiras mas que CONTINUA soando incessantemente no acompanhamento. O tom, geralmente sóbrio, e o ritmo constante dá geralmente um aspecto de crescente intensidade, sempre muito excitante.

PARTE II: FUGA

Que raios é uma fuga? Trata-se de um artifício musical, uma forma, uma técnica. Não é difícil de explicar: pense num tema exposto em um registro (tecnicamente, “voz”) e que é repetido, com algum atraso, em outro, e outro, e outro, sucessivamente, sem que nenhuma dessas vozes pare de soar. O tom, geralmente declamatório, e a complexidade crescente dá geralmente um aspecto de crescente intensidade, sempre muito excitante.

PARTE III: PASSACAGLIA E FUGA

Por que raios juntar uma passacaglia com uma fuga? Trata-se de um dispositivo formal recorrente no barroco: obras em duas, três, quatro partes, cada uma em uma forma diferente, mas sempre terminando com uma fuga. O que, claro, é sempre muito excitante :)

Assim, existem centenas de obras com títulos como “Tocata e fuga”, “Prelúdio, adagio e fuga”, “Fantasia e fuga” etc etc.

Por que sempre terminar com uma fuga? Por motivos óbvios: para demonstrar a destreza tanto do compositor como do(s) intérprete(s). E porque fugas são MUITO FODAS. Ah, sim: o meio predileto desse tipo de formato era o órgão, por causa de sua imensa capacidade polifônica (manter múltiplas vozes simultâneas).

Bach, compositor sempre associado ao órgão, compôs diversas obras nesses moldes. São as peças mais abstratas e “modernas”, se me permitem a liberdade, da produção bachiana. São as minhas obras favoritas de Bach também!

Esta Passacaglia e fuga em dó menor foi composta entre 1706 e 1713, não se sabe ao certo – como de costume, seu manuscrito original foi perdido. A peça incendiou corações e mentes posteridade afora. Foi transcrita diversas vezes para piano (D’Albert, Reger), orquestrada (Stokowski, Leibowitz, Respighi), arranjada para banda de metais, trio de jazz, quarteto de cordas, violão…

A orquestração mais famosa é a de Stokowski, que realça bastante o lado sombrio da obra. Mas vamos ouvi-la em outra ocasião! Hoje é dia de ficarmos assombrados pela peça em seu meio original, o órgão. BEHOLD!

[A interpretação abaixo, do especialista holandês Ton Koopman, foge um tantinho do modo solene como estamos habituados a ouvir a Passacaglia e fuga. É mais rápida e mais ornamentada. Acho fascinante!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 13/10/2012. Link permanente.