Mignone

“Festa das igrejas”

por Adriano Brandão

Hoje, sexta-feira, vou fazer algo diferente: ao invés do tradicional VOCÊ DECIDE (perdão, AMIGO INTERNAUTA!), vamos comentar o feriado religioso brasileiro. E – coisa rara – não vou linkar o YouTube. Vejamos como me saio :)

Preciso confessar que, quando tento associar o culto à Nossa Senhora da Aparecida a alguma manifestação musical, só me vem à mente música de qualidade muito baixa. Católicos podem me ajudar: seria consequência do Concílio Vaticano II?

MAS…! Há uma exceção, vinda de um compositor brasileiro MUITO BOM, que deveria ser bem mais apreciado: Francisco Mignone. Ele compôs, em 1940, uma suíte sinfônica chamada “Festa das igrejas”, que descreve o ambiente de quatro igrejas brasileiras. A última parte é justamente dedicada a Aparecida.

Percebeu a linhagem evidente? Respighi. A obra é muito habilmente decalcada na forma das suítes sinfônicas de Respighi, principalmente os romanos (“Os pinheiros de Roma” é o mais famoso). Quatro partes, estilo pós-romântico voluptuoso, orquestração cintilante: a receita está toda aí.

O primeiro movimento, chamado “São Francisco da Bahia” começa despojado, dominado pelo órgão, e evolui para música mais agitada. O segundo, “Rosário de Ouro Preto”, é austero, com cheiro modal. Seriam as catacumbas romanas de Respighi transplantadas para Minas Gerais?

O terceiro é o mais bonito. Quase villalobiano, tem o estilo carioca explicado no título “Outerinho da Glória” e é um andante delicado. Só não tem rouxinóis cantando. O quarto, “Nossa Senhora do Brasil”, é adequadamente grandioso, dominado por gigantes escalas, no estilo de soldados romanos marchando pela Via Appia… ops.

Derivativa ou não, a obra de Mignone é muito bela e vale ser ouvida. Ela foi apadrinhada por Arturo Toscanini mas depois foi meio que esquecida. Esta gravação, da OSESP, que alguém colocou no Grooveshark (são as quatro primeiras faixas), é a melhor disponível, apesar da usual pouca delicadeza de seu regente à época. (Há uma gravação mineira artisticamente mais sensível porém tecnicamente bem deficiente.)

Curta a música, que é bem legal, e… bom feriado! \o/

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 12/10/2012. Link permanente.