Beethoven

Sonata para piano no. 23, “Appassionata”

por Adriano Brandão

Eu me lembro como se fosse hoje – era 1988 e havíamos comprado um aparelho de som com CD player. Uau, aquilo era muito revolucionário. O aparelho era enorme, modular. Só a parte do CD devia pesar alguns quilos. A caixa de som era quase do tamanho de uma criança pequena, e pesava tanto quanto. Era um adorável trambolho. Hoje em dia ninguém tem mais aparelho de som…

Enfim, o aparelho tinha CD! O nosso som anterior, um Polyvox prateado lindo de morrer, não. Isso era muito excitante, mas não tínhamos nenhum “disco laser” (sim, falava-se desse jeito) para ouvir. Fomos então ao Eldorado, em São Paulo, que era mais uma enorme loja de departamentos do que um shopping center, para resolver isso. No gigante salão de música, uma das estantes era dedicada a CDs – boa parte, talvez a maioria, de música clássica.

Pois é. Pouca gente se dá conta disso, mas foi a música clássica que impulsionou a criação do som digital e do compact disc. Akio Morita, da Sony, era fã de música sinfônica e amigo pessoal de Herbert von Karajan. Além de participar ativamente da criação do CD junto com a Philips, a Sony comprou a CBS, o grande selo americano. Como foi o pessoal da música clássica que primeiro embarcou no CD, entusiasmado com a qualidade do áudio, a maior parte dos “discos lasers” que eram lançados no mercado era dedicada aos clássicos – em geral remasterizações.

Voltando ao Eldorado: compramos alguns CDs para poder experimentar o novo som. Eu tinha 10 anos, não entendia nada de nada (sei lá se evoluí muito desde então) e a seleção foi meio aleatória: Gershwin do Michael Tilson Thomas, a Nona de Beethoven do Lorin Maazel, e três discos do Vladimir Horowitz. Tudo CBS, made in Brazil (menos um, que era DG importado). Dos álbuns do Horowitz, dois eram coletâneas – “Horowitz in Moscow” e “Favorite Encores” – e um era dedicado a três sonatas de Beethoven: “Ao luar”, “Patética” e “Appassionata”.

OK, longo nariz de cera, mas chegamos ao assunto: eu me apaixonei pela “Appassionata”! Que música incrível, quanta força, quanto drama, quanta beleza! De fato, ainda tenho essa sonata como das minhas favoritas, até hoje. E me é impossível ouvir a obra sem me lembrar dos primeiros dias daquele aparelho de som.

A Sonata no. 23 foi composta em 1805. Ganhou o apelido de “Appassionata” bem depois, depois da morte de Beethoven. Acho apropriado – a obra começa de cara com uma introdução solene que leva a uma explosão de paixão romântica, com milhões de enormes acordes. Vale lembrar que esta sonata pertence ao período intermediário do compositor, quando tudo que Beethoven escrevia era maior-que-a-vida.

A obra tem três movimentos. O andamento intermediário é um conjunto de variações sobre um tema de simplicidade schubertiana – muito contrastante com o espírito épico do início da sonata. A peça termina com um presto dramático, meio escuro, que leva a uma conclusão de arrepiar. Olha, a gente escuta e dá vontade de ser pianista, de esmurrar o piano, pular, berrar… caramba, como Beethoven é intenso!

A “Appassionata” merece a fama que tem: é música muito representativa da fase intermediária de Beethoven, e de todo o nascente romantismo musical. Importante, linda… e exciting as hell! E, pra mim, traz lembranças incríveis de infância. Tem coisas que só Beethoven consegue fazer…

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 03/04/2014. Link permanente.