Brahms

Quarteto de cordas no. 3

por Adriano Brandão

[Este post foi trazido a você pelo AMIGO INTERNAUTA. Ueba! E, uia, Beethoven não venceu desta vez…]

Nosso amigo Johannes Brahms foi um dos primeiros compositores a ter plena consciência do passado. Já foi dito que Brahms, na verdade, criou o próprio modelo do “compositor clássico”: o cara cujo trabalho é estudar profundamente o passado e utilizar essa herança para construir um futuro solidamente ancorado na tradição. O músico como um erudito, mais do que como um poeta – OK, vá lá: se alguém realmente inventou isso, concedemos que tenha sido mesmo Brahms.

Nem sempre Brahms revela essa faceta de cientista. Volta e meia ele se permitia soltar mais. Porém, é fácil notar que, ao se aventurar em determinados gêneros, a sombra do passado o assustava mais. Foi assim nas sinfonias. Brahms empurrou com a barriga a sua Primeira Sinfonia por décadas. O resultado é maravilhoso, mas sente-se nele a reverência com que o autor trata o gênero – a música é tudo, menos espontânea.

A mesma coisa aconteceu quando Brahms resolveu escrever quartetos de cordas. O gênero, totalmente ligado aos grandes mestres do passado, como Haydn, Mozart e Beethoven, pareceu a Brahms exigir obras de peso. Foi já bem maduro, portanto, que experimentou escrever quartetos. Começou com dois ao mesmo tempo, em 1873. Percebe-se em cada uma de suas notas o esforço do compositor para escrever algo relevante, digno. São obras difíceis, concentradas, sérias, feitas para durar, que admiramos mais do que amamos.

Peso beethoveniano tirado das costas, Brahms podia voltar a ser mais ele mesmo. Aconteceu na Segunda Sinfonia. E aconteceu no Quarteto de cordas no. 3, de 1875. Mais solto, Brahms criou – agora sim – um quarteto muito mais leve, repleto daquele viço que sempre associamos à produção de câmara brahmsiana.

Que beleza de música! A obra começa aos saltitos, já anunciando seu clima ensolarado. O segundo movimento é um andante de profunda beleza, dramático em momentos, mas nunca desolado. Em seguida, um scherzo típico de Brahms – meio enigmático, meio rústico, agitado mais no interior que no exterior. E o finale gigantesco, um conjunto delicioso de variações sobre um tema alegre, falsamente simples.

Com tais maravilhas, como desassociar o nome de Brahms da música de câmara? Deliciem-se! E bom fim-de-semana! \o/

[Abaixo, gravação histórica do fenomenal Quarteto Amadeus. Obrigado, YouTube!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 16/11/2012. Link permanente.