Chopin

Concerto para piano no. 1

por Adriano Brandão

… e o parzinho do Field da semana passada só poderia ser Chopin! Alguma dúvida? :)

Segue a nossa série “Concerto romântico”, que conta um pouquinho a história do concerto para piano e orquestra oitocentista. No nosso primeiro capítulo falamos dos modelos deixados por Mozart e Beethoven, e do “elo perdido” entre os grandes mestres e a produção romântica posterior.

Chopin está bem no comecinho desta história, mas ouso dizer que seus dois concertos simbolizam bem o que é o concerto romântico típico. Aliás, quando os escreveu, Chopin era bastante jovem (20 anos) e compositor um tanto imaturo. Surpreendente que tenha composto essas duas obras que, apesar de alguns problemas meio óbvios, permanecem super cativantes, tanto para o público como para os pianistas – e seguem firmões no repertório!

Dos dois, o meu favorito é o que foi publicado primeiro, em mi menor. (Na verdade foi composto depois do número 2, em fá menor.) A forma é a usual: um bem longo e meio rapsódico primeiro movimento, depois um movimento lento meditativo e um rondó final. Como de costume, o concerto começa apenas com a orquestra, que expõe os temas. Só depois entra o piano, que se cala pouquíssimas vezes desde então. Típico: muitas das obras para piano e orquestra do século 19 foram publicadas em versão somente pianística. O acompanhamento era encarado como opcional.

O costume da introdução orquestral é uma pena, porque dá ênfase justamente ao ponto fraco de Chopin, a sua falta de sutileza com a orquestra. Sim! Chopin é um mestre absoluto da escrita pianística, inclusive nas obras de juventude. Mas na orquestra ele escorrega um bocado. Neste concerto ele faz sua orquestra GRITAR meio sem cor quase o tempo todo. A exposição do primeiro movimento, apesar da beleza dos temas, fica monótona pela orquestração bruta.

(E daí resta o seguinte desafio aos regentes: como fazer a parte orquestral soar melhor? Apesar de serem obras tão centradas no piano, eu costumo escolher gravações desse concerto pela qualidade do acompanhamento. A versão de Argerich, que é incrível, fica prejudicada pela secura da orquestra de Abbado que a sustenta. Abaixo, selecionei a leitura de Alexis Weissenberg com Skrowaczewski só porque nela participa uma orquestra de som francês muito característico, que é uma delícia de ouvir. Preste atenção nas madeiras. Acho que hoje em dia não existem mais orquestras assim; que puxa!)

A música é linda, inspiradíssima. Gosto demais do segundo movimento, uma romança que é praticamente um noturno, uma meditação de beleza incrível. O rondó que lhe segue é muito adequadamente de tintas folclóricas: afinal, o nacionalismo estava na ordem do dia. (E desculpa o clichê: se o andamento lento se aproxima dos noturnos, este rondó está algo perto das polonaises.)

Chopin deu vôos mais altos? Sim! Autores posteriores compuseram concertos de maior fôlego? Sem dúvida! Mas este Concerto no. 1 permanece repleto de música não só muito gostosa de se ouvir, mas também importante de se conhecer. Sorte que é das mais populares do repertório – justíssimo!

Semana que vem, a evolução natural da espécie!

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 03/03/2014. Link permanente.