d'Indy

“Sinfonia sobre um canto montanhês francês”

por Adriano Brandão

UAU! Nossa série “História e glória da sinfonia romântica francesa, de Gounod a Dukas (ou) O incrível caso das sinfonias gêmeas” já está no quarto capítulo! \o/

Já comentamos sobre a Sinfonia no. 1 de Gounod, que foi super influente em sua época, gerando pequenos tesouros como a Sinfonia de Bizet. Na semana passada falamos sobre a Sinfonia no. 3 de Saint-Saëns, uns 30 anos mais nova que a obra de Gounod.

Ela também foi extremamente bem-sucedida. Sua estreia parisiense, em janeiro de 1887, gerou uma onda de sinfonismo entre os compositores franceses. Mas o curioso é que, enquanto a sinfonia de Gounod gerou emulação direta, a de Saint-Saëns só despertou o interesse pelo gênero.

Seu principal legado foi a adoção dos procedimentos, principalmente formais, não do próprio Saint-Saëns, mas de Liszt, sua fonte. Todas as obras nascidas nessa onda sinfônica pós-1887 terão essa herança lisztiana em comum. (Quer dizer, as próximas três sinfonias da nossa série terão muito mais que isso em comum: são obras GÊMEAS! Mas é papo para a semana que vem!)

Nesta semana vamos falar de uma sinfonia muito bacana de um compositor praticamente esquecido hoje: a “Sinfonia sobre um canto montanhês francês” de Vincent d’Indy. O nome do autor não nos desperta muita coisa (nem ouse pensar em Indiana Jones!), mas em sua época d’Indy foi um músico bem influente. Fundou a Schola Cantorum, deu aulas no Conservatório, escreveu o famoso “Curso de composição musical” e teve dezenas de alunos, como Honegger, Magnard, Milhaud, Roussel e Satie.

D’Indy começou a compor a sinfonia meio que ao mesmo tempo em que Saint-Saëns escrevia a sua Terceira. Estreou-a, porém, um ano depois, em 1888. Se Saint-Saëns colocou um órgão em sua sinfonia, d’Indy colocou um piano, com papel praticamente solista. O bicho toca o tempo inteiro – é quase um concerto!

[AMIGO INTERNAUTA: seria essa uma sinfonia concertante? Cartas para a redação.]

Apesar de estruturada em três movimentos, a obra de d’Indy compartilha com a de Saint-Saëns a forma cíclica – dessa vez, o motivo dominante é uma melodia folclórica das Cevenas, região montanhosa do sul da França. Todos os temas são variações dessa cançãozinha, que fica mais e mais evidente ao final da obra. O efeito é interessante e dá imensa unidade à sinfonia. Liszt ficaria orgulhoso!

Notem que, estrutura formal à parte, o estilo de d’Indy anuncia mais a música francesa do século 20 do que o estilo conservador de Saint-Saëns. Dá para ouvir algo de Fauré ou Debussy aqui? Ou estou delirando?

Ouçam, comentem, delirem junto comigo! Na semana que vem, preparem-se: daaah dah daaaaah… daaah dah daaaaah… ;-)

[Vocês vão notar que a gravação abaixo, linda, é extraída de um vinil. É que sou fã do Ormandy e da Orquestra da Filadélfia – e Casadesus é um putz pianista – e não pude resistir. Mas não se preocupem: apesar disso, o som é até bom!]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 08/10/2012. Link permanente.