Mozart

Sinfonia concertante para violino, viola e orquestra

por Adriano Brandão

Homem é homem, menino é menino, sinfonia é sinfonia, concerto é concerto… e sinfonia concertante é o quê? Bom, aí tem debate pra mais de metro.

Sinfonia, nem precisa dizer, é uma espécie de “grande sonata para orquestra”, a princípio sem solistas. Mas isso não é inteiramente verdade. Aos poucos os compositores foram experimentando: Beethoven mesmo introduziu solistas VOCAIS em sua Nona (fora o coro), Niels Gade enfiou uma enorme parte para piano em sua Quinta, Berlioz compôs uma sinfonia para viola e orquestra e assim por diante (d’Indy, Saint-Saëns, Mahler etc etc).

Concertos, peças para solista e orquestra, têm caráter mais leve: em geral são menos voltados para o desenvolvimento temático e mais focados na exploração técnica e expressiva dos instrumentos solistas. São mais intimistas, líricos, e menos épicos. (Mesmo em obras monumentais como os concertos de Beethoven ou Brahms.) Creio que essa diferença de objetivos é o que realmente divide sinfonias de concertos, muito mais que a presença ou não de solistas.

Legal, chegamos a algum lugar :) Mas e a sinfonia concertante? Na minha opinião, é só um rótulo, criado no século 18 para designar todo concerto com mais de um solista. É um concerto com um nome diferente, e pronto. Tanto que, no romantismo, o termo desapareceu: pensemos no Concerto tríplice de Beethoven, no Concerto duplo de Brahms etc. No final das contas, o título de sinfonia concertante se eternizou por conta de duas obras somente: a Sinfonia concertante para violino, violoncelo, oboé e fagote de Haydn, e esta incrível Sinfonia concertante para violino e viola de Mozart, o assunto de hoje.

Composta em 1779, a Sinfonia concertante de Mozart poderia ser chamada, sem medo, de “Concerto para violino e viola”. Ela começa com a costumeira introdução orquestral, que carrega os temas principais a serem desenvolvidos em seguida pelos dois solistas. O primeiro movimento é a parte principal da obra, ocupando mais da metade de sua duração, e concentrando a maior parte do maravilhoso trabalho temático. Mas o movimento lento, comparativamente menor, não fica atrás em beleza. É, aliás, o ponto culminante emocional da obra – pô, estamos falando de Mozart! É maravilhosamente intenso, quase patético, lindo de doer.

E… é isso. Com Mozart é assim: a música é muita, as palavras, poucas. Ouçam, OUÇAM! :)

[A gravação abaixo é bem curiosa: os solistas são os fabulosos Norbert Brainin e Peter Schidlof, do Quarteto Amadeus, temporariamente fora de seu ambiente natural, a música de câmara. Nesse caso, aturar o som distorcido e cheio de ruído da velha gravação VHS vale a pena!]

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Post escrito por Adriano Brandão em 14/12/2012. Link permanente.