Mussorgsky

“Quadros de uma exposição”

por Adriano Brandão

O russo Modest Mussorgsky compôs provavelmente a peça para piano mais original de todos os tempos: “Quadros de uma exposição”, de 1874. O mais curioso é que a maioria absoluta do público está acostumado a ouvir essa obra de outro jeito – através da orquestração que Ravel fez em 1922.

A música é tão boa que parece transcender qualquer meio. Veja só: muita gente sente que a obra precisa do peso e das cores de uma orquestra sinfônica completa, e existem dezenas de orquestrações (a de Ravel, mais famosa, e as de Ashkenazy, Stokowski, Naumoff, a recentíssima de Peter Breiner etc), só que muita gente também acha que ela fica bacana em outras formas, como banda de rock (a infame/famosa versão de Emerson, Lake and Palmer), violão, órgão, trio de jazz, sopros, grupo de percussão… até versões alternativas para piano existem (a mais famosa é a de Horowitz)!

Um dia mostro algumas dessas transcrições. Dá para passar uma vida inteira só ouvindo versões dos “Quadros”! :) Hoje vamos falar da obra como imaginada por Mussorgsky.

A estrutura da peça é muito bem bolada. Pense em alguém em uma galeria de arte. A obra começa com esse visitante andando na galeria, antes de ver o que está lá exposto: é a “Promenade”, que simboliza o estado de espírito do expectador. Esse “passeio” será repetido cinco vezes durante a peça, entre um quadro e outro. Mas nunca é igual: quem vê os quadros se transforma, é emocionalmente afetado pela arte.

A exposição em si é composta de onze quadros, todos do pintor Viktor Hartmann, amigo de Mussorgsky, recém-falecido à época da composição da obra. Os temas são variados: esboços de figurinos de teatro, projeto de relógio-cuco, esboço arquitetônico, quadros característicos. Em comum entre eles, o clima meio fantasmagórico, meio fantástico, magistralmente capturado por Mussorgsky.

Meu quadro favorito é o quarto, “Bydlo”, que mostra um carro de boi polonês. É uma espécie de marcha arrastada que não para de crescer em intensidade, de uma tremenda força emocional. A peça termina com o famoso e majestoso “Grande portal de Kiev”, uma espécie de homenagem geral à obra e à memória de Hartmann.

No final, nós, ouvintes, nos sentimos como o visitante dessa galeria fantástica: extasiados e transformados pela experiência. Não à toa essa obra tem alimentado a imaginação de tanta gente por tanto tempo.

CURTA! Fiz questão de achar um vídeo em boas condições técnicas, de som e imagem, para vocês aproveitarem melhor a obra. Mas isso é só o começo. Ainda falaremos mais dos “Quadros”, com espaço para outras interpretações e versões! \o/

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Post escrito por Adriano Brandão em 03/10/2012. Link permanente.