Shostakovich

Quinteto para piano

por Adriano Brandão

Preciso confessar: eu tinha outros planos para hoje, mas ando tão entusiasmado com uma obra que redescobri recentemente que simplesmente não consegui fugir dela. Ainda mais depois de encontrar o vídeo abaixo!

Trata-se do Quinteto para piano de Shostakovich. Camaradas, QUE MÚSICA! Praticamente não tenho ouvido outra coisa por esses dias. E olha que Shostakovich não é dos meus compositores prediletos. Mas tenho que admitir que a obra de câmara dele me atrai muitíssimo mais que suas sinfonias, por exemplo.

Dmitri Shostakovich é o exemplo perfeito de artista que podemos chamar plenamente de “soviético”. Diferentemente de compositores como Stravinsky e Prokofiev, mais velhos e muito mais ligados à Rússia czarista, Shostakovich viveu toda a sua vida já na União Soviética, foi ligado ao Partido Comunista (foi até deputado), nunca quis emigrar, sofreu horrores com o regime stalinista, sem nunca lhe fazer real oposição… até nas imensas contradições Shostakovich foi soviético do dedão do pé à ponta do cabelo.

Este Quinteto para piano é de 1940. Ao contrário de várias das suas sinfonias, características por longuíssimos movimentos lentos e proporções tão colossais quanto desajeitadas, é uma obra relativamente curta e equilibrada, de cerca de meia hora. Tem cinco movimentos, dispostos em ordem pouco usual: dois movimentos lentos encadeados que formam um conjunto de “prelúdio e fuga” (como no Barroco!), um movimento central bem rápido, outro movimento lento novamente e um finale moderado.

Prelúdio e fuga para abrir um quinteto, puxa vida. E que prelúdio. E que fuga. Claro que, sendo uma obra de Shostakovich, o clima geral é de desolação e melancolia, com euforias eventuais. O finale tenta purgar tudo isso: é falsamente simples, semi-feliz, agridoce, um alívio com cara também de grande enigma.

Enfim, como saber o que esse final significa? Shostakovich é sempre assim, enigmático…

[O vídeo abaixo, traz simplesmente Joshua Bell, Martha Argerich, Mischa Maisky, Henning Kraggerud e Yuri Bashmet. Ao vivo. Camaradas, É DO GRANDE CARVALHO!]

[[No mesmo vídeo, logo após o Quinteto de Shostakovich, Maisky toca o xaroposo “Kol Nidrei” de Bruch. Essa parte não precisa ouvir. :)]]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 02/10/2012. Link permanente.