Nielsen

Quinteto de sopros

por Adriano Brandão

“Alô? Oi, Christian! É o Carl, tudo bem?”

Foi numa manhã de outono de Copenhagen, em 1921, que uma banal ligação telefônica fez surgir não só uma, mas três belíssimas obras de arte. Carl Nielsen procurava seu amigo pianista Christian Christiansen para discutir qualquer coisa, e acabou interrompendo o ensaio alheio. A obra que estava sendo tocada antes do telefonema inoportuno era a Sinfonia concertante para oboé, clarinete, trompa e fagote de Mozart. Christiansen, que fazia o papel da “orquestra” do ensaio, foi atender o telefone, mas os solistas de sopros permaneceram tocando. E Nielsen, do outro lado da linha, escutou. E viu que era bom :)

Dessa constatação nasceu a necessidade de se compor obras para sopros. A primeira foi este Quinteto de sopros, que comentamos hoje. Nielsen projetou, em seguida, concertos para todos os cinco instrumentos. Os dois primeiros – para flauta e para clarinete – resultaram em grandes obras-primas! É uma pena que Nielsen não viveu o bastante para escrever os restantes – oboé, trompa e fagote. Taí uma de minhas maiores frustrações enquanto ouvinte :(

O Quinteto de sopros foi, portanto, o primeiro laboratório que Nielsen usou para amadurecer sua linguagem para os concertos. Mas é uma grande e importante obra com seus próprios méritos – provavelmente uma das peças de Nielsen mais executadas. A música é maravilhosa do início ao fim! O primeiro movimento é uma sonata pastoral, com um clima meio rústico que se acentua no minueto que vem a seguir. Uma ponte sombria, na qual o oboé é substituído pelo corne inglês, introduz o finale, um conjunto de variações sobre um coral do próprio compositor, sem dúvida a parte mais interessante do quinteto.

Essas variações tornam bem explícito o gosto de Nielsen em explorar as “personalidades” de cada instrumento. Há o momento da trompa, o solo do fagote, as passagens da flauta, duetos aqui e ali – a instrumentação é sempre variada e muito, muito expressiva. As harmonias e os climas vão se alternando, e de repente nos vemos em lugares bem distantes do pastoral primeiro movimento ou do rústico minueto. É realmente impressionante.

Alô? Ei, psit: clica no vídeo abaixo porque é FODA demais. Câmbio e desligo!

[Nem a captação nem a execução é das mais perfeitas… porém fiz questão de achar um vídeo que mostrasse a peça sendo tocada. Sabe como é, o prazer inenarrável de ver os cenhos franzidos e as sombrancelhas levantadas de instrumentistas de sopro lutando para manter suas respirações. ;-)]

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=XbVREDvSTg0″]

Dos mesmos diretores de Ilha Quadrada, eis o Concertmaster, um front-end que transforma o Spotify em um poderoso player de música clássica. GRÁTIS!

Post escrito por Adriano Brandão em 20/12/2012. Link permanente.