Poulenc

“Concerto campestre”

por Adriano Brandão

Quando falamos de cravo, já imaginamos Bach, Scarlatti, Rameau, baixo-contínuo, orquestras pequenas, ornamentações barrocas. Difícil pensar no cravo como solista de um concerto moderno, composto em 1928, acompanhado por uma orquestra sinfônica completa (e bem grande!).

Pois é o caso de uma das obras mais interessantes de Francis Poulenc, o seu “Concerto campestre”. A obra foi escrita para a cravista polonesa Wanda Landowska, grandemente responsável pelo ressurgimento do instrumento no século 20, eclipsado pelo piano ao longo do século 19. Até mesmo obras antigas eram tocadas à época no piano (até hoje se faz isso, na verdade, mas com menor frequência). Landowska fez platéias e músicos sacarem o quão bacana podia ser o cravo e estimulou diversos compositores a criarem obras novas para ele.

Vale lembrar que o cravo que Landowska usava era um cravo grandão, estilo “de concerto”, criado pela Pleyel, fabricante de pianos. Ao contrário do cravo barroco, esse “cravão” francês tem um som mais opulento, de maior presença, que consegue ser ouvido melhor perante uma orquestra sinfônica – daí a opção ousada de Poulenc em instrumentar tão ricamente seu concerto.

A peça é dividida nos três movimentos costumeiros. O espírito geral é leve e gaiato, como o título “campestre” dá a entender. No entanto, o concerto começa com uma introdução lenta e solene – certamente Poulenc queria evocar aqui a música barroca. A pompa é logo substituída por uma série de episódios divertidos e ensolarados, em que a linguagem barroca dá lugar ao neoclassicismo exuberante tão típico dos “Six” franceses.

O movimento lento é uma “siciliana”, uma dança lenta típica do barroco, muito associada ao clima pastoral que o concerto quer passar. A última parte da obra começa com um solo mega rápido e virtuosístico do cravo, que é sucedido por passagens quase histriônicas da orquestra, em estilo de fanfarras. O clima pastelão é quebrado uma ou duas vezes por passagens mais meditativas, e o concerto mesmo é encerrado silenciosamente pelo solista.

É divertido demais, repleto de sons novos e transbordante de bom humor. OUÇA DJÁ! E um excelente fim-de-semana a todos, é claro! ;-)

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Post escrito por Adriano Brandão em 07/12/2012. Link permanente.