Sibelius

Sinfonia no. 3

por Adriano Brandão

A gente muda, a arte muda, o mundo muda. O compositor finlandês Jean Sibelius também mudou. Começou sua carreira como um músico romântico nacionalista. Pense em obras como “Finlândia”, um poema sinfônico que é ao mesmo tempo uma declaração de amor e de guerra, ou a Sinfonia “Kullervo”, um monumento de dimensões lisztianas erigido em honra ao épico nacional, o Kalevala.

Suas duas primeiras sinfonias são nesse mesmo tom. A Primeira, de 1898, é um sombrio e agitado drama tchaikovskiano. A Segunda, de 1902, é uma construção quase bruckneriana de tom afável porém grandioso. Em 1904 compôs um concerto para violino ultrarromântico e virtuosístico, que se inseriu no cânone – feito notável para uma partitura do século 20. Sibelius estava se consagrando com um pós-romântico da estirpe de um Strauss ou Mahler.

E… freada brusca e mudança de direção! Em 1907 Sibelius surgiu com sua Sinfonia no. 3, que é TOTALMENTE DIFERENTE do que ele havia mostrado até então. Ao invés de um agitado dramatismo, um dinamismo clássico e bem delineado. Ao invés da forma expandida, lisztiana, uma construção condensada de rigor lógico. Sibelius descobriu que a sua modernidade, a sua voz própria, estava do outro lado da estrada. Não teve medo de mudar.

A Terceira Sinfonia permanece como obra símbolo dessa transição. Ela, ao contrário das anteriores, é em três movimentos bastante compactos. Os temas são curtos e bem marcados. A sinfonia começa de maneira bem transparente, num estilo “direto-ao-assunto” até inusitado para o autor. O desenvolvimento é maravilhoso! E, surpresa, o movimento termina com um coral absolutamente inesperado. FODA.

O segundo movimento fica em nível ainda mais alto. É um noturno meio lento meio moderado, meio sombrio meio leve, meio triste meio alegre: é a consagração das ambiguidades. Que música maravilhosa! O papel de scherzo que a sinfonia formalmente não tem é, de alguma maneira, preenchido por esse clima incerto – e mais ainda pelo início do finale.

Taí a grande sacada de Sibelius no finale da Terceira: pela primeira vez em sua obra, um movimento de sinfonia é um amálgama de dois tipos diferentes de andamento. Ele se inicia com uma espécie de scherzo em construção, fragmentário, muito original, que só depois de bastante engenharia se transforma em um movimento mais decidido, com um tema em forma de hino que pouco a pouco toma conta do ambiente – até terminar de repente. UAU UAU UAU!

Essa obra maravilhosa, tão cheia de incertezas, é bem complicada de se interpretar. Para ser sincero: conheço um monte de gravações, mas apenas uma me satisfaz completamente, a de Lorin Maazel em Viena (não a de Pittsburgh, bizarríssima!).

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Post escrito por Adriano Brandão em 01/02/2013. Link permanente.